sábado, 16 de agosto de 2008

Uma incelença entrou no paraíso

Uma pausa. Quando pequeno, eu ouvia diariamente a Suíte do Pescador na Rádio Angra, antes de ir para a escola. Era tema de um miniprograma voltado para os profissionais da pesca, que na minha cidade natal não são poucos. Era sempre bem cedo, lá pelas 6h da manhã, e achava engraçado aquele ritmo cadenciado, cantada vozes vindas de um coral de homens. Imaginava logo os pescadores indo para o mar entoando o tema como se estivessem em um musical da Vera Cruz.

Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar, meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer

Anos mais tarde, já muito interessado na obra do Dorival Caymmi, eu me deparei com a música inteira, e descobri que a cena de musical que se passava na minha cabeça não era por acaso. Na segunda parte da canção, em tom mais trágico, Dorival começa a chamar pelos irmãos pescadores que não voltaram do mar. Os gritos ecoam diante do mar.

Pedro, Pedro, Pedro, Pedro
Nino, Nino, Nino, Nino
Zeca, Zeca, Zeca, Zeca
Cadê vocês, homens de Deus?
Eu bem disse à José, não vá, José, não vá, José
Meu Deus! Com um tempo desses não se vai
Quem vai pro mar
Quem vai pro mar
Não vem

A música retoma outra forma, como se fosse uma pequena ária de ópera. E conclui poeticamente, como na maioria das composições do velho Caymmi.

Uma incelença entrou no paraíso
Adeus, irmão, adeus, até o dia de Juízo

Meu amigo Carmélio também escreveu sobre a morte do Caymmi

Para encerrar, a melhor música romântica do Brasil.


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