segunda-feira, 28 de abril de 2008

Me passa o sal de frutas

Tem filme que é simples, mas é bom. Tem uns complicados, mas que na verdade são umas porcarias. Alguns batem na trave, e outros passam longe do gol. Estômago é o segundo filme brasileiro a que eu assisto este ano. O primeiro foi Meu nome não é Johnny, de Mauro Lima, com relativo sucesso de bilheteria. Um passa longe do gol, o outro entra no cantinho.

Ambos têm uma coisa de semelhança: a presença de dois atores que chamam o público. Em Johnny, a interpretação marcante de Selton Mello é responsável pela metade do sucesso do filme. Em Estômago, uma produção Brasil-Itália, o ainda pouco conhecido baiano João Miguel (ele ainda vai aparecer muito nas telonas, pode anotar) opta por uma interpretação diferente, como costuma fazer sempre, ou pelo menos desde que o vi em Cinema, Aspirinas e Urubus. É um ator que vale o ingresso pago, e isso é um tremendo elogio.

Premiado no Festival do Rio 2007 (filme pelo público, diretor, ator e especial do júri), Estômago é a estréia de Marcos Jorge em um longa. Está explicado. A sucessão de clichês, tanto no texto, que desperdiça os palavrões por todo o filme, como nas cenas de cadeia, onde os personagens nem põem medo, nem são verossímeis, é o maior problema no bem intencionado filme. Nada contra os palavrões, nem contra os presidiários. Mas tudo contra as sobras.

Fica difícil acreditar que o simplório protagonista Raimundo Nonato, que apura a sua sensibilidade com o talento da gastronomia, tenha uma motivação tão forte para cometer crimes, principalmente o que levou a sua prisão, o que só é mostrado no fim. Chama-se de curva dramática, e isso é um problema que o roteirista entrega nas mãos do ator (ele que se vire para mostrar isso em duas horas ou em cinco segundos). João Miguel faz o que pode.

Os presidiários são infantilizados e parecem vilões dos quadrinhos da Marvel e da DC (e isso eu entendo). Paulo Miklos, que foi tão bem em O Invasor, faz uma participação especial curiosa, mas fraquinha. Sinal de que a profissão de ator não é tão fácil assim.

A atriz Fabiula Nascimento, que vive a prostituta Íria, acompanha o protagonista e brilha nas cenas com ele. Mas, como a maioria do elenco, dá a impressão de sofrer as conseqüências do texto fraco. Babu Santana, do Nós do Morro, é bom, mas precisa sair da caricatura.

Estômago não me tocou nem no baço, e principalmente por se mostrar um filme que apresentaria uma coisa diferente, mas na verdade é tão ou mais igual que os outros. Tenta citar A Comilança, este sim um filme sensacional de Marco Ferreri que embrulha os estômagos dos espectadores. Mas passa longe do gol.

PS: Sinto que este blog está virando mais sobre cinema do que qualquer outra coisa...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Momento You Tube - IV

Post extraordinário

Pixinguinha, 111 anos.

sábado, 19 de abril de 2008

Um lápis na mão e uma idéia na cabeça

Certamente, quem tem menos que 30 e poucos anos não se lembra do antigo Globinho, apresentado pela jornalista Paula Saldanha (por sinal, filha do João). Uma época bem diferente da atual.

Para descrever um pouco o programa tive que recorrer ao Google (a memória coletiva do século XXI). Achei uma boa descrição no blog Feira Moderna, do designer Mauro Pinheiro. Era um misto de telejornal, com matérias de interesse das crianças, intercalados por animações bem criativas, como Barbapapas, Mio e Mao e... A Linha!

Criado pelo cartunista italiano Osvaldo Cavandoli (01/01/1920 - 03/03/2007), o personagem de La Linea (original italiano) era, como se vê na ilustração acima, feito de lápis branco em uma lousa colorida (ia mudando de cor durante o desenho). Mal-humorado, o personagem narigudo falava uma espécie de "gromlo", língua inventada, de lugar algum, ou mistura de todas. Embora parecesse um dialeto italiano, ressaltado pelos gestos exagerados das mãos do "buona gente".

A simplicidade do desenho é que impressiona. O "Linha" alternava ira e alegria, reclamava com seu criador e desenhista, que atendia às suas exigências e também pregava-lhe peças. Tudo isso representado pela mão de Cavandoli, que aparecia apagando ao desenhando a superfície, transformando solo em água ou em um precipício. Além de tudo, tem uma trilha de abertura bem divertida.

Me lembro de, muito pirralho, ficar vidrado na telinha, prestando atenção aos detalhes do desenho. Cavandoli é o exemplo de criador bem sucedido. Era designer da Alfa Romeo, até que resolver fazer seus cartuns em 1943. Só em 1969 criou A Linha, sua maior obra.

Clique aqui para baixar os filmes de A Linha

Um episódio d'A Linha no You Tube

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Trio perfeito para o fetichista chinês

Post extraordinário

Vou tentar ser mais econômico nos posts extraordinários, não dá para encher estas páginas de letras, se praticamente ninguém as lê. Mas vale registrar o pulinho no cinema para assistir a Um Beijo Roubado, do diretor chinês radicado em Hong Kong, Wong Kar-Wai. Dele, já assisti a algumas fitas, sempre recomendadas pela Liliane, fã de carteirinha desde que o viu pela primeira vez.

O diretor é uma espécie de fetichista, daqueles que não conseguem esconder na telona. Adora closes de sapatos, nucas de mulheres, vestidos chineses, conversas ao telefone, e sempre põe uma chuvinha em seus filmes. Em Amor à Flor da Pele, ele recheia um belo romance com boleros. Algo inusitado para um filme oriental.

Este, porém, é o primeiro filme feito literalmente para o mercado americano (como se os outros não fossem...). Para mim, além da atuação sempre marcante de David Strathairn, de Boa Noite e Boa Sorte, vale as lindas presenças de Norah Jones (estreante na telona), Natalie Portman e Rachel Weisz. Esta última, disparadamente, a mulher mais bonita do cinema atual, além de já ter provado que é excelente atriz. O que até a Liliane concorda.

Crítica do Omelete

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Quem vigia Watchmen?

Uma das obras que mais me impressionaram nos quadrinhos vai virar filme. Watchmen, escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons, ganhará em 2009 uma versão na telona do diretor Zack Snyder, o mesmo de 300, aliás, outra que saiu das HQs.

Publicada no Brasil originalmente em 12 edições, a obra já ganhou edição encadernada e até uma outra especial mais recente, com extras e cenas novas. Quem me deu a dica, no fim dos Anos 80, foi o amigo baterista paulista Cláudio Tchernev, que sabendo do meu interesse em quadrinhos, emprestou o encadernado.

Para quem nunca leu HQs, não é uma tarefa tão fácil. Watchmen (que quer dizer vigilantes) é uma história aparentemente tradicional baseada na chamada Era de Ouro dos super-heróis. E com muita metalinguagem. Tudo é relacionado ao que acontece na história. O conto publicado ao fim de cada capítulo é o mesmo que um garoto negro lê sentado ao lado de uma banca. Os trechos de uma autobiografia são os escritos por um dos personagens do filme. Uma entrevista de um dos vigilantes é publicada em outra edição. E assim por diante.

No enredo, influenciados pelos quadrinhos de super-heróis que surgiram nos anos 30, um grupo de pessoas começou a trabalhar como vigilantes mascarados e fantasiados nas ruas de Nova York. De uma maneira quase inocente (como sugeria a Era de Ouro), o Coruja, o Comediante e a Espectral eram verdadeiras celebridades idolatradas por uma geração. Apenas pessoas atléticas, fortes, sem poderes especiais. Destaco abaixo o trecho do Wikipedia:

"O Doutor Manhattan, o único a possuir poderes paranormais, foi o primeiro da nova era de super-heróis mais sofisticados que durou do começo dos anos 60 até a promulgação da Lei Keene, em 1977, implantada em resposta à greve da polícia e a revolta da população contra os vigilantes que agiam acima da lei. A lei exigia que todos os aventureiros fantasiados se registrassem no Governo. A maioria dos vigilantes resolveu se aposentar, alguns revelando suas identidades secretas para faturar com a atenção da mídia. Outros, como o Comediante e o Doutor Manhattan, continuaram a trabalhar sob a supervisão e o controle do governo. O vigilante conhecido como Rorschach, entretanto, passou a operar como um herói renegado e fora-da-lei, sendo freqüentemente perseguido pela polícia.

A história abre com a investigação do assassinato do homem de negócios Edward Blake, logo revelado como sendo a identidade civil do vigilante mascarado conhecido como Comediante. Tal assassinato chama a atenção de Rorscharch, o qual passará toda a primeira metade da trama entrando em contato com seus antigos companheiros em busca de pistas, considerando praticamente todos como possíveis suspeitos."

O que acontece a partir daí é uma história com desdobramentos incríveis, em meio à paranóia dos Anos 80, sob o medo da Guerra Fria, e que vai ganhando uma complexidade surpreendente. Se Snyder fizer algo próximo ao que fez com 300, adaptação de uma obra de Frank Miller (outro gênio das HQs), teremos um filme visualmente interessante. Mas o grande desafio deste filme é o roteiro: como transformar uma obra tão vasta em pouco mais de duas horas. David Hayter (os dois primeiros X-Men) e Alex Tse assinam o filme e têm essa missão. Eu, como fã da história, torço para que tenhamos um longa tão marcante como é a obra nos quadrinhos.

PS: Mais tarde, a Marvel se influenciou em Watchmen para criar a sua Guerra Civil, que surge por causa de uma Lei de Registros (Lei Keene??) e que põe Homem de Ferro e Capitão América como rivais. A pergunta que permeia a obra de Alan Moore é "Who watches the Watchmen?".

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Momento You Tube - III

Post extraordinário

Dica do meu amigo André Amaral.
Uma luta bizarra e histórica.
E sem comentários.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Cinema, pipoca e rock

Post extraordinário

Segunda, dia chuvoso de folga e de conferir no cinema as duas atrações ligadas ao rock na telona. Não sou fã nem dos Rolling Stones, nem do Bob Dylan. Mesmo assim, reconheço o valor musical de ambos e sou até capaz de cantarolar algumas músicas. Mas, vamos ao cinema.

>> Rolling Stones - Shine a Light - Poucas vezes um show foi tão bem filmado. Porém, o trailler dá a impressão de que é um filme-documentário, mas quem embarcar nessa pode quebrar a cara. É um show filmado no padrão Martin Scorsese de qualidade, com alguma imagens de arquivo de entrevistas dos integrantes da banda, dando uma prova real do tema "o que você faria daqui a vinte anos".

A performance dos velhinhos é comovente. O som é bom, e dá para escutar e diferenciar as guitarras de Keith Richards (que canta duas músicas) e Ron Wood. Mick Jagger tem suas caras e bocas devassadas na telona e dá uma canseira nos câmeras e editores de corte. Charlie Watts aparece muito engraçado em uma entrevista antiga.

As participações especiais são esquisitas, fora o Buddy Guy, que recebe um carinho especial dos guitarristas. Jack White, do Stripes, entra visivelmente nervoso, mas até aí, tudo bem, normal. Mas o número com a Christina Aguilera é constrangedor e desnecessário. Vale ver Bill e Hillary Clinton pagando um momento cerimônia...

>> Não estou lá - É uma colagem de histórias inspiradas na obra de Bob Dylan. Todos os personagens interpetados por Cate Blanchet, Cristian Bale, Richard Gere, Ben Whishaw, Heath Ledger e o garoto Marcus Carl Franklin são uma espécie de alter ego do cantor e compositor no filme do diretor e escritor Todd Haynes. Em cada um, alguma qualidade do multifacetado artista é explorada. Dá para seguir o labirinto proposto pelo roteiro sem se perder, e tudo conduzido pelas músicas do Dylan, que tem um repertório vasto.

Os personagens (muito bem) interpretados por Bale e Blanchet são mais emblemáticos e citam momentos diferentes da carreira. O primeiro faz o artista em sua época ativista, mas que é criticado por uma declaração polêmica. O segundo é criticado por se distanciar de sua origem ao flertar com tendências novas. Uma das melhores cenas cita A Hard Day’s Night, dos Beatles, e Oito e Meio, do Fellini.

As atuações de Cate Blanchet e Cristian Bale no filme são atrações à parte. Richard Gere é o burocrático de sempre. Heath Ledger faz bem o ator egocêntico que interpreta um dos alter egos de Bob, e que vive em crise conjugal. Mas a presença do menino Marcus Carl Franklin, que faz o papel de Woody Guthrie, um compositor prodígio de 11 anos, é o charme especial do filme. "Viva seu próprio tempo, cante sobre sua época", diz uma mulher ao "velho" garoto em determinado trecho do filme.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Momento You Tube - II

Post extraordinário

Esta dica já saiu no jornal O Globo.
Mas em tempos de cidade abandonada, vale rever.
Da série de documentários Traveltalk (The Voice of the Globe) da Metro Goldwin Mayer - Lançado em 1936.
Rio - City of Splendour. Basicamente, uma cidade limpa.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Genial traço galhofeiro

Na volta da revista Mad, da qual sou leitor desde os anos 80, relançada agora do número 1 pela Panini, o melhor reencontro que tive não foi com a famosa Dobradinha. As boas sátiras dos filmes também ocupam duas edições da publicação, uma com Harry Podre, e outra brasuca com Meu nome não é Enjoony, que dispensam explicações. Mas não foram meu maior prazer. Os inimigos Spy vs. Spy, criação genial do falecido cubano Antonio Prohias, têm vaga cativa na nova edição, mas tiveram que ficar em um posto menor na minha nostalgia.

Prazer mesmo foi reencontrar as fantásticas tiras do espanhol Sérgio Aragonés, de 71 anos.

Ele é colaborador da Mad desde 1963, ou seja, há 45 anos ilustra a revista que faz a alegria de adolescentes de várias gerações. É ele quem faz aqueles desenhos mínimos, famosas piadinhas mudas que aparecem despretensiosamente nas margens da publicação.

No Brasil, além da Mad, chegou a ter uma revista de publicação regular, com um personagem cativante e inspirado em um famoso bardo. Groo, o Errante era uma clara alusão a Conan, o Bárbaro. O engraçado e tolo personagem é escrito em parceria com Mark Evanier.

Ano passado, Aragonés deu uma entrevista por telefone à Folha de S. Paulo, da qual registro um trecho:

"Eu levo vantagem sobre os desenhistas que criam histórias sérias porque, como meus cartuns são de humor, as pessoas não notam quando eu erro algum personagem, faço um nariz maior ou um cabelo errado. A velocidade em si dá uma liberdade no traço com a qual é muito confortável trabalhar. Mas eu ainda levo 20 minutos para fazer uma página [ri]. É mentira, eu levo algumas horas. Esse mito começou porque eu desenho rapidamente quando estou em frente a platéias, para que elas não fiquem entediadas, e isso as espanta."

Outras criações inesquecíveis para os devoradores de quadrinhos foam as sátiras feitas para os clássicos heróis da Marvel e da DC Comics: Sérgio Aragonés massacra a Marvel e Sérgio Aragonés destrói a DC. Por aqueles motivos que não dá para perdoar, perdi esses dois exemplares em alguma das sete mudanças que fiz aqui no Rio.

Mas ainda me lembro de uma aparição do Quarteto Fantástico do Aragonés em um quadrinho, durante uma batalha, cada um com seus respectivos poderes. A piadinha era Sue Storm explicando para alguém o motivo de estar metade invisível: "É para dar a impressão de que estou sendo útil".

Entrevista de Sérgio Aragonés à Folha

terça-feira, 1 de abril de 2008

Momento You Tube - I

Post extraordinário

Cauby "forever" dando pinta nos anos 80.
Nosso Fred Mercury.
E diante da nossa Oprah.
Sem comentários...