quarta-feira, 23 de julho de 2008

O Coringa toca o zaralho!

Ainda vou precisar de um tempo até saber direito se Batman - Cavaleiro das Trevas é a melhor adaptação dos quadrinhos para o cinema. Até há pouco, eu jurava que era Dick Tracy, filme a que já assisti umas duas ou três vezes. Talvez, depois de um tempo, mude de idéia. Ou não.

Há uma semana e meia, peguei o finzinho de uma exibição de Batman Begins na TV aberta. Achei um filme sem pé nem cabeça e fiquei meio decepcionado. Lembro de na época sair incomodado com o nível dos vilões - pois já tinha lido nos gibis versões muito mais interessantes do Espantalho – e com a explosão da Mansão Wayne – desnecessária.

Ao sair do cinema nesta terça-feira, porém, cheguei a uma conclusão que não vai se perder com o tempo. O Coringa de Heath Ledger é o personagem que menos tem influência dos quadrinhos e o que mais força ganhou fora das HQs. Não há gases venenosos coloridos, nem roupas muito espalhafatosas, muito menos pistolas com canos compridos. Há terrorismo, sadismo, anarquia (muito se falou esta palavra) e humor e sorriso amarelos.

Uma vez eu já fui fantasiado de Coringa em uma festa à fantasia. A cara ficou branca, a boca ficou vermelha e esticada pelas bochechas, mas o cabelo ficou tudo, menos verde. E, durante a festa, fui ao banheiro e vi minha cara toda derretida. O vilão composto por Ledger é assim: maquiagem, suor e o mais próximo possível do que um The Joker seria na vida real.

Antes que eu esqueça e me perca diante de tanto papo cabeça: recomendo. O filme é grande em tamanho e valor, daqueles que te deixam grudado na cadeira. O Coringa, literalmente, toca o terror! Faz da Polícia de Gotham City o que quer, deixa Batman ou Bruce Wayne tonto e desfigura a vida do honesto Harvey Dent. Fosse eu o Tenente Gordon, teria desistido bem cedo. Aliás, no placar moral, dá empate no fim.

O Coringa de Ledger é um palhaço malvado, e quem sabe um pouquinho de Commedia Dellarte vai entender de onde veio a técnica do ator. Só que é elevada ao extremo, a todas as potências imagináveis. Fica no limite, quase estourando, incomoda, agride, mas às vezes também nos faz soltar um riso nervoso, como se disséssemos "ah, não estou com medo, estou até rindo". Balela. Dá medo sim. Pena que tenha sido um dos últimos trabalhos do promissor ator.

As coisas que o personagem trama e faz, e junto com isso, a maneira como o ator realiza as ações estúpidas do vilão, nos fazem lembrar de casos bem reais, que fazem parte do nosso noticiário. Por vezes, o Rio é Gotham, a GCPD é a PM, o Batman é uma espécie de milícia, e o Coringa... eu, hein!

PS1: O que eu acho curioso é que, no primeiro filme de Heath Ledger após a morte prematura do ator, a gente veja a cara dele sempre maquiada, em 99,9999% das cenas. Em apenas um frame vemos o rosto do Coringa sem a maquiagem (ei-lo aqui fantasiado de policial).

PS2: Recomendo a leitura de Gotham City contra o crime, série de quadrinhos já cancelada nos Estados Unidos, e lançada por aqui em DC Especial 5, 8, 11, 13, 14 e 16. É uma das melhores coisas que li ultimamente. Mostra o dia a dia da GCPD, com os tiras bons e os corruptos, tendo Batman e os seus pavorosos vilões como personagens coadjuvantes.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Momento You Tube - VIII

Antes da estréia do tão aguardado filme do Batman, vale relembrar uma das melhores cenas já feitas com o homem-morcego, na época em que ele não era tão "das trevas".

"Some days you just can't get rid of a bomb..." Santa filosofia, Batman!!

terça-feira, 1 de julho de 2008

Reverência em pleno shopping

Muito se falou (e bem , por sinal) no aniversário de 50 anos da conquista da primeira Copa do Mundo pela seleção brasileira, na Suécia. Eu assisti aos vários documentários das TVs esportivas e ao filme 1958 - O ano em que o mundo descobriu o Brasil, de José Carlos Asberg. Quanto ao último, não dá para entender o motivo de o Pelé não ser um dos entrevistados. Agenda? Desencontro?

Pouco se falará de futebol aqui neste blog. Talvez, esta seja a única vez. Abro uma exceção para falar de um personagem da conquista em 58: Didi.

Valdir Pereira era considerado um jogador lento para a época (segundo relatos dos tais documentários). Tinha a fama de praticamente não sujar a camisa, o que ia ao encontro com a forma elegante de bailarino espanhol. Os críticos juravam que às vezes dormia em campo.

Inventou um chute, geralmente usado em cobranças de falta, que o "comentarista da palavra fácil", Luís Mendes (meu vizinho aqui do bairro do Flamengo), batizou de Folha Seca, por não se saber nunca onde cairia. Fez o primeiro gol do maior templo do futebol brasileiro, o Maracanã.

Se assistir aos documentários ou às cenas da época, preste atenção no Didi. Não pelo badalado e curioso fato de botar a bola embaixo do braço e ir lentamente ao círculo central após o gol sueco na decisão. Mas pelos passes açucarados que dava ao atacantes. Contra o País de Gales, deu um toque de cabeça para Pelé. Contra a França, além do golaço vindo de um chute certeiro de fora da área, esperou o camisa 10 aparecer livre para dar mais um passe daqueles. E contra a Suécia, após a lenta caminhada histórica, meteu para Garrincha na ponta direita, dando a tônica de como o Brasil viraria aquela partida.

Lembro de estarmos eu e Liliane, no Dia dos Pais, no ano 2000, passeando no Botafogo Praia Shopping. Estávamos vivendo em cidade diferente dos nossos pais e fomos encarar alguma fila de um restaurante. Até que vi Didi, esposa, alguns filhos e netos vindo na nossa direção. Eu cochichei com a Lili (que não sabe nada de futebol, mas tem verdadeira adoração por pessoas de idade), tentando explicar a importância daquele que vinha.

Didi percebeu que eu o tinha reconhecido e pareceu curtir aquela admiração. Eu, que quando vejo pessoas famosas costumo fingir que não conheço por pura vergonha, naquela vez, o cumprimentei como se ele fosse lembrar de mim: "Mestre Didi". Aquele senhor de 81 anos de idade, que mancava de uma das pernas por causa de um problema na coluna, mas mantinha a elegância de antes, sorriu. De uma maneira leve, como um sábio e sem falsa modéstia. E seguiu adiante, orgulhoso, amparado pelos seus. Foi o último Dia dos Pais do craque. E eu o reverenciei naquele dia.