sábado, 27 de dezembro de 2008

Um prazer ouvi-lo

Teve uma época em que era legal ir a uns debates. Isso foi mais ou menos nos anos 1990, quando viemos para o Rio estudar, e em "nós" eu incluo Carmélio e Jeffinho além de mim, é claro. Uma dessas vezes, no Teatro Casagrande, era o Betinho quem comandava uma dessas mesas. Aliás, o sociólogo Herbert de Souza merecia um post especial. A única exigência dele nessas mesas era que tivesse cerveja disponível para que ele ficasse bebendo durante as conversas. Uma vez, ele contou isso e revelou que após um encontro, uma pessoa o procurou, dizendo-se portador do HIV, e o perguntou qual era a marca da cerveja que ele tomava que o deixava tão bem de saúde.

Claro que isso é um exemplo do bom humor que cercava esses encontros, principalmente quando tinha o Betinho no comando. Mas, não é sobre isso que eu quero falar. Quero dizer que, em um desses debates, um jovem senhor fez uma pergunta sobre política cultural, que infelizmente eu não lembro mais. De pé, pois a sala estava cheia, ele elaborou algumas frases interessantes e fez a questão. A resposta do Betinho foi antecedida por uma saudação que surpreendeu os espectadores (pelo menos eu).

- Taiguara! é um prazer revê-lo.

Era o Taiguara, cantor e compositor nascido no Uruguai, que participava dos grandes festivais, e que sua canção mais famosa é Universo do Teu Corpo, da época da foto acima, meio romântica, meio riponga, meio trágica, que começa com o verso "eu desisto". Ou então, da segunda composição mais famosa dele, chamada Viagem, com os mesmos adjetivos da anterior, que sugere que a pessoa amada abandone "a morte em vida em que hoje estás".

Mas o que me veio à mente quando vi o velho compositor se portando como um espectador comum foi o LP Imyra, Tayra, Ipy - Taiguara, de 1975, da foto aqui embaixo, que eu conheci graças ao meu grande amigo Zequinha Miguel, que bradava ser um dos maiores obras da música brasileira (ele costumava dizer isso de vários discos).

Um pouco mais recentemente, me lembrei do velho e falecido Taiguara (morreu poucos anos depois daquele dia), quando pedi a um ex-vizinho colecionador de vinis que o digitalizasse para mim. Mas só agora há pouco, quando baixei esse e outras obras de Taiguara no meu computador e pude ouvi-lo diversas vezes foi que compreendi a dimensão do Imyra.

Produzido por Wagner Tiso e com arranjos de Hermeto Paschoal, tendo como músicos Toninho Horta e Nivaldo Ornellas (e isso já é motivo suficiente para o LP ser histórico), Taiguara conseguiu escrever coisas maravilhosas e bastante contundentes contra o regime militar, mas sem ser nada panfletário. Na primeira faixa com letra, Público, ele diz ironicamente que "eles querem lotar o Maracanã e precisam de mim, lá vou eu". Afinal, era o disco da volta do compositor após o primeiro auto-exílio de dois anos em Londres.

Mas a música que poderia ser um hino dessa época, é Terra das Palmeiras, a segunda faixa cantada do LP. Com um corte seco, após introdução que simula sons de uma floresta tropical (É Hermeto, lembra?), entra flauta e violão, e Taiguara abre a primeira de quatro estrofes, com orquestra acompanhando:

Sonhada terra das palmeiras
Onde andará teu sabiá?
Terá ferido alguma asa?
Terá parado de cantar?


A segunda estrofe vem em seguida, revelando seu duro sentimento, um pouco mais diretamente, mas sem perder a ternura, parafraseando a ideologia da época.

Sonhada terra das palmeiras
Como me dói meu coração
Como me mata o teu silêncio
Como estás só na escuridão


O intermezzo que entra em seguida é a primeira frase da Marselhesa, hino da França, bem acoplada à melodia da música, sem pieguice. Mas é bom lembrar que a linha divisória desta com a elegância é invisível e intagível. Na terceira estrofe, Taiguara rasga a ternura e endurece o discurso e toca em tema delicado.

Ah! minha amada amordaçada
De amor forçado a se calar
Meu peito guarda o sangue em pranto
Que ainda por ti vou derramar


E imediatamente, Taiguara conclui a bela melodia com otimismo moderado, mas com o que se pode chamar de final feliz. Embora seja irônico

Ah! minha amada amortalhada
Das mãos do mal vou te tirar
P'ra dançar danças de outras terras
E em outras línguas te acordar

No fim, Taiguara canta o último verso na melodia da Marselhesa:

Ah! em outras línguas te acordar
E em de outras terras te acordar
Amada minha, te acordar
Querida minha, te acordar
Que outras línguas te acordar

Termino este post com a fim da descrição do perfil de Taiguara na Wikipédia.

"O espetáculo de lançamento do disco foi cancelado, e todas as cópias foram recolhidas pela ditadura militar em poucos dias. Em seguida, Taiguara partiu para um segundo auto-exílio que o levaria a África e à Europa por vários anos. Quando finalmente voltou a cantar no Brasil, em meados dos anos 80, não obteve mais o grande sucesso de outros tempos. Faleceu em 1996 devido a um persistente câncer na bexiga."

Conheça o site sobre o disco

Ou ainda, baixe o disco aqui no sensacional blog Um Que Tenha

Feliz 2009!

sábado, 29 de novembro de 2008

O rei e os súditos

Logo na primeira vez que vi o livro Roberto Carlos em detalhes em uma livraria, não titubeei: comprei-o na hora. Sabia que o trabalho de pesquisa de Paulo Cesar de Araújo prensado em 500 páginas corria sério risco de ser recolhido das lojas por força de alguma ação na Justiça do cantor mais famoso de Cachoeiro de Itapemirim (ES). E foi mesmo o que aconteceu, dias depois.

Após dois anos, ajudado pela crise que me fez abandonar de vez os quadrinhos comerciais da Marvel e da DC Comics, aproveitei as férias para tirar da gaveta a tal obra e devorá-la em cinco dias úteis de leitura. Roberto Carlos é rei mesmo, concluo. Com todos os méritos. Mas nenhum rei é perfeito, sabemos hoje, desde a Revolução Francesa.

Paulo Cesar de Araújo é fã assumido do rei e deixa isso bem claro em todo o livro, exagerando um pouco ao analisar algumas canções, que seriam perfeitas à luz de sua interpretação. Mas isso não atrapalha em nada a leitura, já que nada é mais comprovador do sucesso de RC do que o vastíssimo repertório do artista.

Isso eu pude comprovar enquanto lia o livro. Ao sair nas ruas, ainda com alguns trechos na cabeça, vi várias referências ao rei, como o cara da banca que mesmo sozinho cantava em alto volume uma das canções de RC. Ou ao passar ao lado de um prédio, onde dava para ouvir ao longe um vinil antigo dos anos 80, aquele que tinha o clássico Cama e Mesa.

Algumas coisas podem ser positivamente destacadas no livro:

>> O acidente: com cuidado e sem esbarrar no sensacionalismo, o autor conta o acontecimento em que o rei perdeu o pé direito e um pedaço na canela. Ele tinha apenas seis anos de idade quando foi atropelado por um trem, em Cachoeiro, cidade toda cortada por linhas férreas. RC viveu até os 15 anos andando com a ajuda de uma muleta e só foi usar uma prótese quando foi morar no Rio. Mas fica claro no livro que ele teve uma infância muito feliz e que isso não o atrapalhou a ir para a capital federal tentar se lançar como cantor.

>> O parceiro: Paulo Cesar de Araújo tem todo o cuidado de se referir a Erasmo Carlos como figura fundamental no processo de composição da dupla. O curioso é que ambos tiveram apenas uma briga, esta causada pelo fato de na época acharem que Erasmo era o compositor de fato, enquanto o rei apenas incluía seu prestígio na parceria.

>> Os amores: RC viveu intensamente o romance com a atriz Myrian Rios nos anos 1980. Isso fica evidente pela sua expressão de felicidade nos especiais da época. É só pesquisar no You Tube. Ou olhar as composições nos LPs deste período. A história mais recente, de seu relacionamento com Maria Rita, está toda lá também, em um forte e comovente relato.

>> Os compositores: o livro detalha bem sobre todos os artista lançados pelo cantor, como Isolda, Marício Duboc, Antônio Marcos, entre outros. Todos conseguiram comprar ao menos um apartamento graças às boas vendas dos discos de RC. Vale destacar a passagem com Carlos Colla, compositor que largou a profissão de advogado atuante na luta contra o regime militar depois de presenciar duas situações trágicas ligadas à tortura e ao terror.

>> O carisma: fica claro um dos principais motivos do tamanho do sucesso do rei. Até começar a apresentar o programa Jovem Guarda na TV Record de São Paulo, RC era um cantor entre muitos outros. A partir do momento em que seu rosto apareceu na tela, tudo passou a ser diferente. Pode-se dizer que sua boa imagem na televisão ajudou a construir este mito. Não é à toa que ele é contratado exclusivo da maior emissora de TV do país.

>> Os vacilos: claro, o rei erra. No início da carreira, influenciado pela revolução da maneira de cantar de João Gilberto, optou por imitá-lo. Só depois, barrado na bossa nova e depois de muito aconselhado por amigos, aderiu ao rock. Nos anos 80, mandou um telegrama de apoio ao presidente José Sarney pela proibição do filme Je Vous Salue Marie, de Godard, provocando a ira dos artistas e intelectuais. Mas o maior vacilo foi a proibição deste livro, que só exalta a figura de Roberto Carlos. Pô, bicho, sai dessa!

Para fechar, recomendo dar uma espiada em tudo o que tem do rei no You Tube. Mas pincei esta pérola de 1965, dos arquivos da TV portuguesa RTP, quando RC ainda tentava se firmar na carreira. A música é Coimbra (Raul Ferrão e José Galhardo), do disco Jovem Guarda, do mesmo ano. Repare na bandinha RC-3, com o rei na guitarra, sem o alisamento no cabelo que lhe dava tanto trabalho.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Allen e elas

Este blog ainda não tem um ano, e já vou escrever sobre mais um filme de Woody Allen. No dia 21 de maio, há quase exatos seis meses, no texto Olha o Allen aí, sobre O Sonho de Cassandra, ratifiquei que o diretor era um dos meus cinco favoritos.

O recém-lançado e muito esperado Vicky Cristina Barcelona, considerado por muitos como o melhor filme recente do autor, é um colírio para os espectadores masculinos, mas é altamente recomendado para as mulheres.

A foto ao lado mostra o quão disputado é o diretor judeu, que parece ter superado os traumas que conhecemos dos fantáticos primeiros filmes cômicos. Penélope Cruz, Scarlett Johansson e Rebecca Hall são as atrizes que interpretam as belas e problemáticas mulheres em foco no filme.

Para as espectadoras, vale a presença do ótimo (e bonitão, temos que admitir) ator espanhol Javier Bardem, vencedor do último Oscar de melhor ator coadjuvante por Onde Os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos Coen. Uma espécie de figura com todas as qualidades de galã dos filmes de Pedro Almodóvar, mas que revela ter também os problemas emocionais típicos dos personagens do Allen.

O que quero dizer é que tem um personagem central no filme que curiosamente não está no cartaz: Vicky, interpretada por Rebecca Hall, atriz que construiu sua carreira basicamente na TV. É ela quem tem a tal curva dramática na história, que cede aos encantos do galã Juan Antonio, apesar de não admitir desde o início se render a tais paixões. As outras atrizes também estão ótimas. Mas Rebecca é o "Woody Allen" do filme, com seus questionamentos e piadas ferinas. Por isso, atenção a tudo o que ela diz!

A fase européia de Woody Allen rendeu quatro bons filmes. Além de Vicky... e O Sonho de Cassandra, tivemos o suspense Macht Point e a boa comédia Scoop. Um lançado a cada ano desde 2005, sem desgastar o sensacional diretor. Isso me faz lembrar uma boa história, contada por um amigo. Ao entrar em uma locadora, ele perguntou sobre filmes do Woody Allen. O dono da locadora chutou feio: "Ih, esse cara quase não faz filme, rapaz..."

Música que não sai da cabeça
O tema do filme é chicletinho e fica martelando na mente depois que a fita acaba. Tem um charminho especial, típico dos temas do diretor, quase semelhante àquelas letrinhas que entram sobre o fundo pretos em todas as produções de Allen, assim como o "Cast (in alphabetical order)".

O nome da bandinha é Giulia y los Tellarini, e a música se chama, é claro, Barcelona.
Ei-los abaixo em uma apresentação na TV3.

Banda francesa invade a praia

Uma ótima surpresa estava esperando os transeuntes na Praia de Ipanema, neste feriado do dia 20 de novembro. Uma minibanda francesa chamada Globe Note animou o dia ensolarado entre os postos 10 e 11, na altura do Jardim de Alah.

Pela explicação breve do músico que melhor arranhava português, o grupo é de jovens integrantes de uma ONG, que tem por objetivo viajar por três continentes (América do Sul, sudeste da Ásia e leste da África e animar crianças destes locais com suas fanfarras animadas.

O grupo é formado por músicos amadores. Portanto, esperar concertos magníficos é bobagem: eles tocam como se tivessem acabado de se conhecer, com menos compromisso com a perfeição do que com a animação. E se arriscam a dançar e pular, como fizeram no ensolarado asfalto da Avenida Vieira Souto.

Eu conversei com um dos músicos (o que fala melhor português) e disse a ele que, se passasem alguns meses no Rio, acabariam virando um sucesso instantâneo. Eles são a cara de um possível verão 2009. E pela animação com que foram recebidos pela platéia na Zona Sul, acho que vamos vê-los de novo por aqui.

Fiz um pequeno vídeo, com um trecho de um dos arranjos na banda: "Thriller, do Michael Jackson".

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Tupi or not Tupi?

Existem algumas maneiras de se perceber que estamos ficando velhos. Uma delas é quando só você em uma roda de amigos se lembra de alguma referência antiga sobre televisão, como comerciais, programas, novelas ou vinhetas. A maior prova de que você se aproxima da tal meia-idade é quando você se lembra da extinta TV Tupi.

Era a rede de TV criada pelo polêmico Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados. Faliu em 1980, saindo do ar depois de uma vigília de 18 horas de transmissão ao vivo, ininterrupta, comandada pelo apresentador Jorge Perlingeiro (ele mesmo, o do "só se for agora" e do "vamos às notas"). A biografia que está na Wikipedia é bem completa, tanto a da TV Tupi quanto a do Chatô. O livro escrito por Fernando Morais, "Chatô", é obrigatório para jornalistas.

Pois a sede e o estúdio da emissora no Rio funcionaram no bonito bairro da Urca, exatamente onde era o famoso Cassino da Urca, que ficou fechado entre 1946 até 1950, quando Chatô instalou ali seus equipamentos. Mas o prédio, que pode ser visto de longe no Aterro do Flamengo, após abrigar a TV por 29 anos e dez meses, começa a ser reformado exatamente 28 anos depois daquela vigília.

Lá vai funcionar a sede carioca do Instituto Europeo de Design (IED), uma espécie de universidade multinacional. Já conversei com um amigo morador do bairro (daqueles ferrenhos defensores da Urca como ela é) e saí razoavelmente convencido de o colégio pode provocar um pequeno transtorno ao simpático lugarejo.

Mas o post não visa a analisar a iniciativa do prefeito Cesar Maia de usar o espaço para o IED, ou se isso vai ajudar ou não o bairro, se vai ou não influenciar a vida dos moradores. É só para dizer que, como lembrou meu amigo Carmélio (do blog Estrelamoto), vizinho do Cassino, ele fica bem mais bonito agora do que do jeito que estava.

E tem mais!
Fuçando a rede para não escrever besteira, achei este vídeo sensacional, postado no maravilhoso You Tube (a maior preciosidade da internet). Terminada a vigília dos funcionários da Tupi, na sede do Cassino, alguns funcionários continuaram registrando os tristes momentos, em que suas vidas passaram a ser um ponto de interrogação. Imagens que nunca foram ao ar. Mas que podem ser vistas aqui, graças ao Jorjão Henriques, que o postou no You Tube com o seguinte texto.

"Ao encontrar uma fita Umatic no lixo, deparei com estas imagens gravadas para TV Guanabara (BAND). Mofada, limpei, passei pelo recortech da TV Manchete e deu para salvar.A todos colegas desta época aqui vai um abraço. JORJÃO 18/07/1980"

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A rainha Diablo

Meu amigo Carmélio já tinha me alertado para a qualidade da Revista Piauí. Eu demorei para constatar isso por causa do meu preconceito com revista grandes, pensando na dificuldade de lê-las dentro dos ônibus e metrôs. Uma tremenda chatice da minha parte.

Mas desde setembro, quando dei início a algumas mudanças de hábito de leitura, resolvi incluir o revistão no meu cardápio, que inclui a insossa Veja, a Placar e National Geographic. Resumindo: hoje, conto os dias para que o mês acabe, pois (além da entrada do meu merecido salário) está chegando a nova Piauí às bancas.

E a revista desse mês traz um dos textos mais engraçados que li ultimamente. É da menina ao lado, Diablo Cody, a tal roteirista que chegou a ser dançarina stripper, última ganhadora do Oscar de melhor roteiro original, com o simpático filme Juno, aquele da adolescente grávida tagarela que resolve vender o futuro bebê.

Pois é do outro ofício que Diablo fala neste texto autobiográfico, onde ela se permite dar umas pitadas de pimenta, com humor pesado, sarcástico e cara de pau. Selecionei alguns trechos que me fizeram quase cair do banco do ônibus de integração do metrô até a Barra.

Crianças, saiam da sala!

"...sempre fui um ser humano do sexo feminino bem-comportado. As provas: nunca havia andado de moto, nem naquelas japonesas fraquinhas. Nunca havia engravidado por acidente ou feito um aborto. (...) Nunca joguei bebida na cara de alguém no meio de um porre. Nunca furtei batom numa loja bacana. Eu era um saco, queridos."

"A maioria das garotas que eu conhecia odiava strippers com a mesma fúria reservada a estrupadores em série. (...) Pouco importava se aquilo fora pago, e feito de livre e espontânea vontade: era culpa exclusiva da stripper ousar divertir um pênis que havia sido tão difícil de ser conquistado por uma garota."

"...Minneapolis é o lar de pelo menos quatro lojas que atendem a sua população curiosamente grande de strippers. (...) Suando em bicas no meu casacão, me dignei a entrar. (...) Naquele lugar, uma garota podia ser tudo o que quisesse, da Cher a Cheetara dos Thundercats."

"A stripper que estava no palco tinha tirado o sutiã e lançava insultos à multidão indiferente.
- Eu estou pelada, porra! - gritou ela. - Vocês podiam pelo menos olhar para mim!
Um sujeito meio careca caiu numa gargalhada que mais parecia um milkshake de nicotina sendo batido no liqüidificador."

"Kayla, a ruiva com quem eu havia falado, agora estava nua em frente ao espelho (...). Parecia pesar uns 40 quilos, os dois conjuntos de costelas visíveis através de sua carne translúcida. Ela me lembrava a mulher de vidro do Museu de Ciência de Chicago, cujos sistemas vasculares e o tecido do peito acendiam com um aperto de botão."


Enfim, tem muito mais no texto. E coisa muito boa na revista.

Momento You Tube - X

Em homenagem à fusão dos bancos, vamos relembrar algumas marcas que já partiram desta para melhor. Dois bancos que primaram pelas propagandas criativas nos Anos 80, mas que não sobreviveram às crises e às gigantes multinacionais.



quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Canarinho sem ninho

Decidi em cima da hora que eu poderia assistir ao jogo da seleção brasileira no Maracanã. Afinal, fazia mais de 15 anos que eu não via a equipe verde-amarela de perto. A última foi no dia 19 de setembro de 1993, nos 2 a 0 sobre o Uruguai, jogo em que Romário foi convocado por Parreira em cima da hora para evitar uma tragédia: se perdêssemos, teríamos que disputar uma maldita repescagem na Oceania, se não me engano. Dunga estava lá, em campo, e viu o Baixinho fazer uma das melhores atuações individuais com a camisa amarelinha. Eu também vi.

Desta vez, acordei cedo e fui para o Rio Sul antes mesmo deste shopping eternamente em obras abrir. Tem todo um ritual, abre-se a porta de fora, depois a de dentro, e o povaréu entra. Quando cheguei à livraria Saraiva, a fila já era enorme. Muitos gringos, pais de família e pessoas esquisitas, como eu, por exemplo. Após uma hora, e uma taxa de 20% que eu não esperava pagar, o ingresso estava na mão.

A segunda maratona era sair da Barra rumo ao Maracanã. Imaginei que iria sofrer, mas o trajeto em dois ônibus durou uma hora e 40 minutos. No 438 via Rebouças, apenas eu, um casal e quatro amigos saltaram em frente à estátua do Bellini, minoria em um ônibus repleto de pessoas voltando do trabalho.

- Passa no Maracanã, né?
- Passa, sim. Ih, o jogo é hoje, é?? - respondeu e perguntou o distraído motorista.

Ao chegar na porta da "casa de espetáculos", tratei de tomar as minhas cervejas, já que encarar uma jornada solitária ao Maracanã, não é mole não. Dei aquela volta rápida no Bellini tentando encontrar algum conhecido (quase todos marcam encontro lá). Tinha PM, Polícia Municipal, Segurança e até Fiscal do TRE. Nenhum rosto conhecido. É melhor entrar logo.

Um pequeno bolo de pessoas se aglomerava na entrada. Em cima de uma grade, um cara de colete gritava:

- Arquibancada verde, amarela, branco, inteira e meia é aqui! Cadeiras azuis e gratuidades é lá - bradava o que uma boa placa resolveria. Aliás, é difícil entender o motivo de o Maracanã ser tão mal sinalizado.

Ao entrar, cheguei mais ou menos na hora em que os jogadores iam ao campo para fazer o aquecimento. Esse foi o momento ápice do espetáculo. Pareciam os Beatles, e Kaká era o Paul. Robinho, tinha o carisma do Ringo. Pena que o conjunto desafinou quando o show começou.

Enfim, saí do jogo aos 20 minutos do segundo tempo, com muito tédio. Peguei um táxi, que nem escutava o jogo, e em que o motorista nem sabia do placar. A impressão que tive é que, embora a maioria estivesse usando amarelo, quase ninguém se sentia torcedor daquele "time esquisito". Não existem cânticos, fora um leleô, Brasil que surge de vez em quando. Ah, claro, a exceção foram os xingamentos ao técnico, ao Robinho, além do duelo Fla-Flu nas arquibancadas. Uma tremenda chatice.

Sintomático mesmo foi um detalhe ainda no primeiro tempo: apenas um jogador teve o nome gritado por uma jogada que fez dentro de campo. Não foi Kaká, embora a claque feminina desse urros quando ele recebia a bola. Não foi Robinho. Pato só teve o nome gritado quando estava no banco, mas quando entrou, desafinou também. Júlio César foi saudado antes do jogo, mas só. Foi Lúcio, após uma bonita roubada de bola. Amigo, quando a torcida grita o nome do zagueiro, é sinal de que a coisa foi feia.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Cara estranho

Rapaz, eu já desisti da música algumas vezes na minha vida. As primeiras foram quando o dedo indicador esquerdo começava a doer por causa dos acordes em que o fura-bolo finge que é pestana. Foi assim que eu joguei a toalha umas três vezes. Até que encarei os F, F# e Bb sem medo, e resolvi fazer parte de uma banda. Depois, entre 1987 até 2007, nesses vinte anos aprendi a tocar baixo e participei de três inesquecíveis grupos, e em um deles cheguei a gravar um LP com dez músicas.

As canções que ouvia na infância não eram bem para crianças. Fato é que, nos Anos 80, fora a traumática e inesquecível Copa de 1982, os duelos sem fim de Zico e Dinamite nos meus campeonatos solitários de botão, e os desenhos dos Flintstones e do Hanna Barbera e do Globinho, havia Falcon e Playmobil para brincarmos de realidade. Mas as músicas da minha infância era o Clube da Esquina 2 que meu irmão não tirava da radiola, as fitas da Elis que minha mãe ouvia no Corcel 77 IM-5000 e o LP Gal Tropical.

Depois, sim, vieram as bandas de rock brasileiras, Paralamas, Kid Abelha, Titãs, Blitz, Barão Vermelho, RPM, Ultraje a Rigor, que tinham sabor de festinhas, de chegar tarde em casa e tomar as primeiras broncas. Mas, como fui um boêmio precoce, freqüentei boteco desde sempre, ouvindo no Escritório Bar a mesma MPB da infância.

Portanto, quase nunca fui rock'n'roll de verdade. Cresci MPB. Ouvia os rocks dos amigos, que gostavam, e para não parecer um ET. Tentava entender os punk rocks paulistas que meu primo escutava, mas logo me emocionava com a versão para "Serra da Boa Esperança", do Lamartine Babo,que o Eduardo Dusek gravou e que tocava direto na Rádio Costazul FM.

Ou seja, quatro parágrafos de introdução para começar a falar de "sou" (ou "nós"?), no primeiro CD solo de Marcelo Camelo. Primeiro, preciso deixar claro que sou fã do Los Hermanos desde que ouvi "Bloco do Eu Sozinho" pela primeira e segunda vezes de sopetão, de uma vez só. Reconheci algo ali.

Pois agora, ouvindo o vôo solo do Camelo, reconheço hoje a música que aprendi a gostar desde pequeno. Marcelo faz a crônica do cara de uma geração que busca maneiras novas de se dizer as mesmas coisas que já disseram nestes últimos 30 anos. Afinal, há pouco por dizer. A diferença é que ele faz sem o medo que as pessoas da minha idade tiveram de parecerem careta. Além de ter o conhecimento de quem pesquisou novas maneiras de fazer.

Odiado por boa parte da minha geração, mas amado, ouvido e cantado pela maioria dela, Camelo chegou a apanhar na rua de um outro popstar, este até popularmente mais bem sucedido do que ele (ver o olho roxo da foto acima). Só de ouvir as faixas 1 (Téo e a Gaivota), 5 (Janta) e 9 (Copacabana), me sinto vingado por tudo o que não ouvi minha geração cantar até então. E hoje, vendo o Camelo de olho roxo, entendo que ele levou apenas a pior no primeiro golpe. Mas o resto da briga ele ganhou. E eu mais uma vez fiz as pazes com a música.

Clique aqui e faça bom proveito

Já tem no You Tube o vídeo do show de estréia, com ele e Mallu Magalhães cantando "Janta"

domingo, 14 de setembro de 2008

Dupla de ataque

Propositalmente, tirei o sabadão para assistir aos dois filmes dos diretores brasileiros que fazem sucesso no exterior. E coincidentemente, ambos têm em duas personagens femininas seus focos para observar a chamada condição humana, ambas tendo a metrópole como fundo.

À tarde, fui ao São Luiz ver Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas, que repetem a parceria do insípido Terra Estrangeira, filme de que não gostei nada. Ao contrário, porém, este que deu a Sandra Corvelloni a Palma de Ouro de melhor atriz em Cannes, surpreendendo toda a imprensa brasileira, fica menos na forma do que a experiência anterior.

O filme tem na família formada pela mãe Cleuza e os irmãos Dênis (João Baldasserini), Dario (o já conhecido Vinícius de Oliveira), Dinho (José Geraldo Rodrigues) e Reginaldo (o surpreendente Kaique Jesus Santos) os protagonistas da trama. É a partir das escolhas diárias que a vida dessas pessoas circula entre a paz e a tragédia. Todos buscam algo. A fé pode residir na arquibancada do Pacaembu ou em uma igreja evangélica da periferia.

A Folha de S. Paulo deste domingo fez uma reportagem sobre uma sessão realizada para moradores dos bairros de Heliópolis e Grajaú (zona sul), e de Itaquaquecetuba (Grande SP). Vale ler pelas opiniões curiosas e diversas sobre o filme (leia aqui).

Por fim, só à meia-noite, por causa da grande procura de ingressos no Artplex Botafogo, fomos eu e Liliane assistir ao grande lançamento do ano, Ensaio sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles. Eu já esperava assistir a um grande filme. Também já tinha lido o livro de José Saramago no ano em que foi lançado.

Mas o impacto das imagens, aliado ao bom roteiro de Don McKellar (ele é o ator que faz o ladrão do automóvel do primeiro cego), faz a gente entender o motivo de algumas adaptações serem tão perfeitas.

As atuações de Mark Ruffalo (médico), Alice Braga (realmente, essa menina tem talento), Danny Glover e Gael García Bernal são marcantes. Mas é em Juliane Moore, cujo trabalho já tinha me deixado chapado em As Horas, que reside a força do filme. Se Rachel Weisz levou o Oscar de melhor atriz por outro filme do brasileiro, O Jardineiro Fiel, é bem possível que a americana de 47 anos, que já foi indicada quatro vezes, leve a estatueta desta vez. E se Fernando Meirelles conseguiu ser indicado por Cidade de Deus, eu apostaria que ele estará entre os indicados no ano que vem.

A Veja da semana passada traz boa crítica, com carta do autor do livro elogiando o filme de Fernanrdo Meirelles (leia aqui).

São dois filmes imperdíveis, para deixar Batman e Coringa boladões.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O ataque dos santões

Sempre gostei das eleições, desde pequeno, quando em Angra ainda nem se podia escolher o prefeito. A primeira vez que votei foi em 1982, quando eu tinha 10 anos. Sim. Minha falecida avó, Dona Sebastiana, me pediu que a acompanhasse até a cabine, e eu nem perdi tempo para preencher a cédula toda. Votei, no que se chamava na época de voto vinculado, em candidatos a governador, senador, deputados federal e estadual e vereador, todos candidatos do PDS. E não seriam os que eu votaria, claro, mas sim, os escolhidos pela Vó Tiana.

A cidade ficava cheia de santinhos espalhados pela rua. Uma verdadeira festa da democracia, bradávamos nós, já em nossa primeira participação como votante e militante, nas eleições de 1989, enfim, para presidente. Tinha 17 anos. E que eleições foram aquelas! Lula, Brizola, Ulisses, Covas, Maluf, Aureliano, Afif, e os obscuros Pedreira, Marronzinho, Correia, Caiado, com figuração de Silvio Santos, mas com fim triste: Collor.

De lá até 2008, hoje com 36, já nem me lembro direito em todos os candidatos em que votei (em algumas até justifiquei ausência) nas eleições. Sou voluntário, trabalho como mesário, por gostar muito do processo eleitoral. Mas confesso que estou de saco cheio com a poluição visual da cidade. Saem os santinhos, entram os santões (foto). Neste monumento, no cruzamento da Senador Vergueiro com Barão do Flamengo, o José de Alencar parece entediado com tamanha cara-de-pau dos candidatos em roubar o seu espaço. Portanto, me decidi: não voto em candidatos a vereador com santões. Embora, para prefeito, não eu tenha como fazer isso. Todos aderiram aos santões!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Uma bela visão

A foto ao lado é de um dos bares tradicionais da Rua do Lavradio, esquina com Rua do Senado, do qual o nome eu já esqueci totalmente. Como eu disse no post anterior, todo primeiro sábado do mês acontece lá uma feira de antigüidades e artesanato. Em uma tarde bonita como foi a do dia 6 de setembro, o lugar fica gostoso e dá vontade de não sair dali jamais.

É claro que se trata de um programa etílico, fica difícil entender aquilo ali sem algum álcool. Quem preferir, pode sentar-se em alguns dos vários botecos e antiquários espalhados naquele logradouro, que hoje é uma das atrações desta cidade e um dos símbolos da recuperação da Lapa, que ainda precisa de atenção das autoridades.

Prova disso é o casario, que merece ser reformado aos poucos. Não sei como é a situação dos proprietários. Sei que tem gente que mora lá. Veja no segundo andar desta maravilhosa construção. A janela estava aberta (e depois se fechou). Tem aparelho de ar condicionado, o que é uma prova disso. Deveria ser um privilégio morar ali, naquela cúpula, que pode ser um quarto ou uma sala.

Pois este sobrado foi a minha vista durante a maior parte do dia. Decidi registrá-lo durante o belo entardecer. O céu ganhou uam tonalidade bonita com contraste com as luzes do lugar. Ao fundo, um show com Áurea Martins, com repertório antigo, com algumas músicas de Zezé Gonzaga.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Paradiso perdido

OK, prometo que não falo mais no fim do Cinema Paissandu. E sei o quanto é chato para as pessoas que pingam neste blog ficarem tanto tempo sem atualização e, quando volto, surge o mesmíssimo assunto.

É claro que fui lá fotografar (com o celular mesmo) na última semana do cinema, lembrando do Paradiso do filme inesquecível. Não tinha demolição. Mas já havia um aviso de que o ar condicionado não estava funcionando (para quê gastar com mais luz?).

Li nos jornais que ainda há uma esperança de que alguma boa alma consiga revitalizar aquele espaço. Eu não tneho mais esperança, e imagino que o mais perto de um centro cultural que a sala deve se tornar é um supermercado (em alguns deles, toca-se música).

Na última semana do Paissandu, a vereadora que leva o bairro no sobrenome passeou com o seu carro de som (está em campanha para reeleição) prometendo um protesto em frente ao cinema.

Eu, estava com o tempo vago, fui lá dar uma olhada. Estava ela com um megafone na mão, gritando: "O Cinema Paissandu não pode acabar". Ao lado, um abaixo-assinado. Simples, não? Resolvido? Claro que não.

Dois homens seguravam uma faixa-protesto (foto abaixo). Foi de lá que eu ouvi o melhor comentário. Aparentemente cansados de ficar ali parados, um disse ao outro: "Quem tinha que estar aqui revezando com a gente é o pessoal do gabinete".

PS: Quem se lembrou do meu aniversário, muito obrigado. Quem não se lembrou, não fique preocupado, que eu não dou a mínima (mesmo, juro!).

Mas eu me diverti muito no sábado, quando fui à Feira do Lavradio com grandes amigos. É sempre no primeiro sábado de cada mês. Acho que virei freguês.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Momento You Tube - IX

Este blog ainda está na fossa por causa do fechamento do Estação Paissandu. Mas ao me deparar com este vídeo, não resisti. Ainda no clima das comemorações pelos 50 anos da Bossa Nova, tenho ouvido bastante João Gilberto, morrendo de inveja de quem foi ao show do último domingo, no Municipal.

Enquanto isso, em uma praia na Barra, Luiz Bonfá, João Gilberto e Tom Jobim tentam se dar bem diante de três desinibidas cariocas... Até que chegam... bem, não sei direito, assista ao vídeo.

sábado, 23 de agosto de 2008

Paissandu eterno

Como assim? O Cinema Estação Paissandu vai fechar? É a última semana? Leio surpreso a notícia no Globo. Liliane fica inconsolável. Tento lembrar de todos os filmes a que assisti na simpática sala da Rua Senador Vergueiro, mas só me recordo do Quando estou amando, o filme que mais me impressionou este ano (leia sobre ele aqui).

Pelo que a reportagem deste domingo diz, o proprietário da sala pediu o imóvel, possivelmente seduzido por alguma proposta irrecusável de algum supermercado ou (toc, toc na madeira) igreja evangélica. A solução viável, segundo o povo do Grupo Estação seria uma reforma que transformasse o cine em duas salas (sim, sou a favor dessa idéia!). Mas não há investidores.

Como assim? Onde estão os banqueiros amantes do cinema nesta hora? E a Petrobras, que banca o Odeon? Eletrobras? Quem poderia salvar este simpático cinema, que mantém viva esta rua do Flamengo? E a vereadora que leva o bairro no nome? E os cinéfilos, que andam para cima a para baixo nas semanas de Festival do Rio? Quem dá mais??

Eu não consigo acreditar que o Paissandu vai acabar. Parece um pesadelo. Liliane é sócia da locadora. Foi perguntar às meninas que lá trabalham, ficou amiga delas. Não sabem de nada, não foram avisadas. Ficaram surpresas com a quantidade de velhinhas, coitadas, que vão lá de hora em hora perguntar se é verdade aquilo que leram no jornal. E agora?

Este blog, que ficou tão ligado nas madrugadas olímpicas, perdeu a inspiração de repente, atônito com esta notícia. Eu não aceito. Ainda espero, durante esta semana, um parceiro, um milionário caridoso que aceite bancar a reforma, ou comprar a sala, ou fazer chover dinheiro, sei lá. Já não temos o Teatro Galeria, que poderia estar em funcionamento, fazendo um setor cultural alternativo bem localizado (petinho do metrô). Mas, não. Vai acabar!

Enquanto o apocalipse não chega, estarei aqui triste, incrédulo, saudoso desde já. Desde sempre. Não! O Paissandu não pode morrer!

Telespectador olímpico - XVIII

Em algum post do passado, eu escrevi sobre fracasso, me referindo ao tombo fatídico do Diego Hypolito diante do mundo. Pois duas de nossas três medalhas de ouro em Pequim, que hoje vivem a glória, já passaram por isso.

Maureen Maggi pensou em botar um fim em sua carreira quando foi suspensa por doping, até hoje atribuído por ela a um creme depilatório. Depois, ela teve uma filha do casamento com o piloto Antonio Pizzonia e voltou por cima.

As meninas do vôlei, única aposta minha que vingou (fora o bronze do futebol masculino e a prata do Roberto Scheidt), também viveram isso. Ou melhor, o técnico Zé Roberto passou. Ele, sim, poderia desabafar como Bernardinho fez, até antes da decisão que começa daqui a algumas horas. Foi taxado de pouco rigoroso, de calmo demais, de não ter pulso, de tudo. Pudera, também depois daquela semifinal em Atenas.

Mas ele pegou leve, se comparado com o sinal de silêncio das meninas após a vitória sobre os EUA. "A gente tinha certeza que uma hora aquela bola que não caiu em Atenas ia cair. Aquilo ficou engasgado, mas agora saiu da melhor forma possível".

Sobre o vôlei masculino, vou torcer. Mas o que os caras dos Estados Unidos jogaram nos últimos dois duelos contra Sérvia e Rússia... Não vai ser nada fácil.

Telespectador olímpico - XVII

Enfim, entramos nas Olimpíadas de vez! O salto de Maurren Maggi (foto) foi tão perfeito que, se o pé avançasse um milímetro a mais, iria queimar e ser invalidado. Isso é emoção demais! Ouro para o Brasil em esportes como natação ou atletismo é assim: no limite do atleta. Com César Cielo também foi assim, sem parar para respirar, nas braçadas perfeitas. O mérito é todo e somente deles. Por isso, vale ficar na madrugada torcendo, esperando um feito desses.

Criticar é fácil, ainda mais quando se está em casa, deitadão no sofá ou na cama. Mas eu tenho que falar só uma coisinha sobre o Bernardinho. Ele resolveu desabafar logo depois das semifinais: “O que me incomodou foi o julgamento de pessoas que não têm a menor condição de julgar. Umas que não tem condição moral, outras que não têm capacidade. Isso me incomodou muito. Me chamaram de tudo: traidor, nepotista, mercenário, tudo foi de alguma maneira ventilado. E o que eu vou fazer? Processo adianta o quê?"

Mas logo o Bernardinho, tão incensado como o melhor treinador do Brasil, resolve dar uma de Dunga? Será que o comandante da seleção brasileira de futebol está fazendo escola? E quem é que criticou o Bernardinho, que eu não fiquei sabendo? Eu hein...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Telespectador olímpico - XVI

Tem coisas que só acontecem com os Estados Unidos. Essa frase, criada para atazanar o Botafogo, mas incorporada por boa parte dos botaguenses, só se aplica aos estadunidenses se forçarmos muito a barra. Nesta quinta, aconteceu, quando Tyson Gay deixou cair o bastão, resultando na desclassificação de sua equipe no revezamento 4 x 100m livre. O Brasil ficou com o quinto tempo e pode sonhar com um bronzezinho.

Outro coisa que tenho que registrar aqui foi o meu palpite errado. Cravei, com toda a petulância de quem pretende enganar alguém, que os EUA iriam passar a China no quadro de medalhas com o começo do Atletismo. Pois, até agora, nem neste esporte os ianques estão liderando: a Jamaica e a Rússia têm cinco ouros cada, e os Estados Unidos têm quatro. A China só tem dois bronzes.

A seleção brasileira feminina de vôlei é pule de dez. Embora em um jogo duríssimo (a que infelizmente não pude assistir), venceu a China por 3 a 0, continuando invencível inclusive em sets. E vamos pegar quem? Estados Unidos. Por onde se anda, topa-se com eles(as).

Pois então, eis que pela manhã, perdemos para elas(es) no futebol. Certamente, a prata mais jururu de Pequim. Sem sentimentalismo, que pinta fácil nessa hora, é hora de pensar o que fazer com essas guerreiras, Marta (foto), Cristiane, Daniela, Formiga, Bárbara e outras que começam a ser conhecidas aos poucos. O preparo físico pesou na hora da decisão, fazendo com que elas errassem alguns lances que poderiam ter sido mais fáceis. E para desfecho, mais choro. Agora, não adianta falar em dar apoio ao futebol feminino. É hora de ação.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Telespectador olímpico - XV

Na primeira semana de Olimpíadas, o difícil era assistir a um jogo até o fim. As atrações eram tantas, que cortavam do vôlei para uma luta no judô, que emendava numa eliminatória de natação, ou em um trecho final de um joguinho de basquete. Ao voltar para o vôlei, aquele set já tinha sido fechado. E assim, se chegava as 4h da madruga.

Agora, chegando ao fim dos jogos, as atrações são mais escassas. De repente, nos vemos acompanhando uma prova de BMX, Monaretta, Caloi Cross, 10, Ceci ou Peri, quem sabe até uma dobravelzinha, só para lembrar de alguns camelos dos Anos 80. É a hota que pipocam provas de Nado Sincronizado (foto), Ginástica Rítmica (aqueles com bolas, fitas, arcos e uns troços esquisitos) e Iatismo sem vento, especialidade de Pequim.

Mas, ontem me deparei com um jogaço de vôlei: Itália x Polônia. Um grupo de poloneses aparentemente chapados na arquibancada não parou um só minuto de gritar "Polska, Polska, Polska", embalando a reação dos compatriotas em quadra. Reagiram, levaram para o quinto set, mas deu Itália no fim. Pela manhã, parecia um repeteco (lembra desta expressão?). Estados Unidos x Sérvia também teve as mesmas características. Enfim, pelo visto foi o Brasil que teve mais molezinha nas quartas-de-final, ao vencer a China por 3 a 0.

Teve uma coisa que achei muito feia. Na semifinal brasileira masculina do vôlei de praia, a dupla Márcio/Fábio Luiz derrotou Ricardo/Emanuel por 2 sets a 0, com um ponto final contestado pelos perdedores. Depois do jogo, enquanto Fábio dava entrevista, Ricardo interrompeu a entrevista para, aparentemente em tom de brincadeira, tirar satisfação do adversário. "Aquela bola bateu na sua mão", dizia para que os jornalistas ouvissem. Os colegas caíram na pilha e repetiram a pergunta, deixando o finalista ainda mais constrangido.

Resumindo: uma pequena palhaçada. Esse tipo de atitude desmerece a vitória incontestável da dupla que chegou a Pequim desacreditada. A desenvoltura do desinibido Ricardo em frente aos repórteres e diante do ultratímido Fábio foi um exemplo ideal do que é não saber perder. Mesmo que a bola tenha batido na mão dele, o que faz do perdedor o bastião da Justiça para fazer aquilo na frente da imprensa (e de todo o Brasil, conseqüentemente). Eu, hein. Fosse um cara mais pavio curto, o pau ia comer.

Telespectador olímpico - XIV

Tava mais do que cantada essa eliminação do Brasil para a Argentina nas semifinais do torneio olímpico de futebol masculino. Aliás, estava tão cantada quanto a queda do futebol feminino diante da Alemanha, também nas semfinais. A diferença é que as meninas não aceitaram isso e mudaram o curso da história. Da próxima vez, não vai ser mais surpresa.

O que vai ficar mais feio é que, enquanto Marta, Cristiane e cia. estiverem festejando uma quase certa medalha de ouro, o time de Dunga vai lutar para arrumar motivação para vencer a Bélgica pelo bronze. É mais fácil achar a vara sumida da Fabiana Murer.

Mas o futebol feminino que não se iluda. Por se tratar de futebol, este esporte que é tão amado e odiado pelos brasileiros, o que eu mais ouvi na rua hoje foi que "tinha que botar a Marta e a Cristiane nos lugares do Ronaldinho e do Pato". Pronto. Qualquer outro resultado que não seja uma bela vitória sobre os EUA passa a ser derrota. É assim...

Soberanas, sem perder um só set, o mesmo dilema vão viver as meninas do vôlei. Com fama de amarelonas, elas chegam a mais uma semifinal. Desta vez, o ouro vem mole, parece. Mesmo assim, vai ser tenso. O mais impressionante de se ver foi a levantadora japonesa de 1,59 m. Praticamente uma pulga na quadra.

O Jadel Gregório é um daqueles que falam na terceira pessoa, tipo o Pelé (ou o Édson?). Será que isso ajuda? Que é estranho, é.

O nome da atleta acima é Leryn Franco (foto), do Paraguai, arremessadora de dardo. Ficou em 51º lugar nas eliminatórias. Boa idéia!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Telespectador olímpico - XIII

Quando a gente imagina que já viu de tudo, depois de se surpreender com a organização dos chineses na cerimônia de abertura, de se espantar com o progresso que os anfitriões das Olimpíadas mostraram no esporte... eis que desaparece, sem mais nem menos, o principal instrumento de trabalho de uma atleta.

A cena da expressão de decepção no rosto de Diego Hypolito foi ofuscada um dia depois pela imagem de desespero atônito de Fabiana Murer, aquela saltadora que conquistou os brasileiros no Pan do Rio. Uma menina simpática, que só queria saber onde estava a sua vara, que dá nome ao esporte que pratica. O que fazer? Parar tudo? Criar uma quizumba ou um barraco, no melhor estilo brasileiro? O fato é que, independentemente de ela ganhar ou não uma medalha se a vara estivesse lá, o que a organização chinesa mostrou foi um baita de um despreparo. Mais uma vez: dá para o Rio fazer Olimpíadas, sim. Desse jeito, tranqüilamente.

Liu Xiang foi a prova de que a decepção e o fracasso são democráticos e espreitam qualquer um. Que cena. E, depois da cena dantesca, a imagem dos chineses indo embora do Ninho de Pássaro, sabendo que "a grande atração... morreu", como diz uma tragicômica canção de Nico Nikolaievski, da dupla Tangos e Tragédias.

As meninas da seleção de futebol desta vez surpreeenderam de verdade. Depois de sofrerem no início do primeiro tempo, resolveram dar um pontapé no complexo de vira-latas. Cristiane botou as alemãs para dançar e também deu seus passinhos ao fazer um golaço de placar. Meninas, não brinquem! Agora, vocês entraram no glorioso panteão do título obrigatório. Bem-vindas ao mundo do futebol!

Com grau bem menor de cobranças, a dupla de beldades Fernanda Oliveira e Isabel Swan (foto) fizeram a maior farra depois de conquistarem o bronze na classe 470. Como eu não entendo patavinas de iatismo, gostei mesmo foi da virada do barco que elas deram no fim.

Telespectador olímpico - XII

Qual é o preço de uma frustração? Ou de uma decepção? Quanto custa um fracasso? Como se avalia de quem é a culpa de um erro? Quem assistiu ao tombo de Diego Hypolito no fim da apresentação de solo, onde ele entrava como candidato a uma medalha de ouro, teve que tirar a prova do estômago. O garoto, que teve que brigar com uma lesão e até contra a dengue para ir a Pequim, fez uma expressão difícil de explicar.

Por acaso, eu já tinha falado aqui que achava difícil. E também questionei sobre a orientação psicológica dos atletas, tanto da ginástica, quanto do judô. E, pelo visto, já dá para ver que isso acontece também no atletismo e na natação, com a exceção do Cielo. Mas, jamais poderia imaginar que poderia ver aquela cena da manhã de domingo.

Acho que quem tem mais de 30 anos já fracassou um dia, guardadas as devidas proporções. No esporte, isso é mais evidente, e às vezes, até muito cruel, como no caso de Hypolito. Zico, Baggio, Zidane, Maradona, só para ficar entre alguns ídolos do futebol, sabem o que é isso.

E chega desse negócio de pedir desculpas ao país. É uma prova de que essas pessoas levam todo o peso de um país nas costas. E, com o perdão do que possa parecer esse verbo, tremem na hora de brilhar. Daiane dos Santos (foto), mais uma vez, errou. Mas voltou a mostrar maturidade: "É muito complicado. Você treina quatro, cinco, oito anos para alguma coisa e não acontece." Ela completou com mais uma frase simples, mas lúcida: "A gente quebrou muitas barreiras aqui".

Enfim, você, telespectador brasileiro, está insatisfeito? Vai lá fazer melhor.

sábado, 16 de agosto de 2008

Uma incelença entrou no paraíso

Uma pausa. Quando pequeno, eu ouvia diariamente a Suíte do Pescador na Rádio Angra, antes de ir para a escola. Era tema de um miniprograma voltado para os profissionais da pesca, que na minha cidade natal não são poucos. Era sempre bem cedo, lá pelas 6h da manhã, e achava engraçado aquele ritmo cadenciado, cantada vozes vindas de um coral de homens. Imaginava logo os pescadores indo para o mar entoando o tema como se estivessem em um musical da Vera Cruz.

Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar, meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer

Anos mais tarde, já muito interessado na obra do Dorival Caymmi, eu me deparei com a música inteira, e descobri que a cena de musical que se passava na minha cabeça não era por acaso. Na segunda parte da canção, em tom mais trágico, Dorival começa a chamar pelos irmãos pescadores que não voltaram do mar. Os gritos ecoam diante do mar.

Pedro, Pedro, Pedro, Pedro
Nino, Nino, Nino, Nino
Zeca, Zeca, Zeca, Zeca
Cadê vocês, homens de Deus?
Eu bem disse à José, não vá, José, não vá, José
Meu Deus! Com um tempo desses não se vai
Quem vai pro mar
Quem vai pro mar
Não vem

A música retoma outra forma, como se fosse uma pequena ária de ópera. E conclui poeticamente, como na maioria das composições do velho Caymmi.

Uma incelença entrou no paraíso
Adeus, irmão, adeus, até o dia de Juízo

Meu amigo Carmélio também escreveu sobre a morte do Caymmi

Para encerrar, a melhor música romântica do Brasil.


Telespectador olímpico - XI

Eu deveria botar aqui a foto do César Cielo conquistando o ouro que ele prometeu e conseguiu. Mas, como isso aqui não é um blog de esportes, vamos de Lucimara Silva (foto), a musa do heptatlo, que tem deixado os cuecas olímpicos loucos, atrás de quaisquer notícias sobre esta modalidade do atletismo quase desconhecida do grande público.

O mais recente dia olímpico, a virada de sexta para sábado, foi o melhor até agora, apesar da madrugada fria. A seleção masculina de vôlei percebeu o mico e venceu a Polônia, voltando aos eixos. A final dos 100 m rasos, cheia de jamaicanos, teve recorde mundial. O Brasil deu susto, mas conseguiu vencer o Camarões na prorrogação. A Argentina idem. E o maior duelo do futebol mundial será em uma terça, às 10h (de Brasília), pela semifinal do torneio de futebol masculino.

Mas o dia foi mesmo do Cielo. Sem parar para respirar, o cara engrenou uma batida, surpreendeu todo mundo na redação, emocionando gente que costuma ver esporte com outros olhos. Parecia final de Copa do Mundo. Acho que foi até melhor. O que foi chamado de marra, aqui, há alguns posts, virou autoconfiança, muita perseverança e técnica. Ele fez história.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Telespectador olímpico - X

A Jade até que tentou. E acho que o décimo lugar é para ser comemorado. Mas, assim como o judô, me dá aquela impressão de que o resultado poderia ser melhor. E assim como aos atletas do "dojo", parece que falta um pouco de orientação psicológica à menina.

Mas, é impressionante ver as garotinhas, tão novinhas ainda, fazendo movimentos que eu jamais chegarei perto de fazê-los (e nem estou aí para isso). Em 1988, lembro de Luisa Parente ter vibrado muito com o fato de ser a primeira ginasta a se classificar para as finais (ficou entre as 36 primeiras). Mas, se vermos a apresentação da estadunidense Nastia Liukin na trave e no solo, vemos o quanto ainda estamos longe de um pódio. A esperança é o Diego Hypolito, dizem. Eu custo a acreditar ainda.

Outra coisa que me impressionou foi a vitória da dupla Ana Paula e Larissa sobre as alemãs Pohl e Rau. na hora de comemorar, Larissa se virou para abraçar Ana, mas esta correu para o fundo da quadra. Desentrosamento até na hora de comemorar. Agora, elas terão a prova de fogo, enfrentando as americanas Walsh e May.

As meninas do vôlei indoor (é assim que se diz?) estão impossíveis. Desta vez, detonaram o Cazaquistão, que só fez jogo duro no terceiro set. Ainda acho a melhor aposta.

Tem uma tal de Lucimara Silvestre competindo no Heptatlo com uma roupinha, digamos, cavadíssima. Em uma entrevista, a atleta brasileira disse que tem feito sucesso por onde passa e que os homens ficam loucos. Vamos prestar atenção nela!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Telespectador olímpico - IX

Olha, o Michael Phelps pode ganhar quantas medalhas quiser, mas essa história de que os óculos saíram do lugar, e ele ficou chateado por não ter feito um melhor tempo por nadar de olhos fechados foi a maior tirada de onda de Pequim. Quer dizer que ele nunca nadou de olho aberto em piscina? Rapaz, esse cara não sabe ganhar. Aliás, ele consegue ser mais feio que o Alexandre Pato.

Não é que o César Cielo está se mostrando uma espécie de Xuxa mais bem acabado? Ganhou o bronze nos 100 m livre da natação, prova que não tem o Phelps para atrapalhar, e já avisou: vai buscar o ouro nos 50 m livre. Que marra, hein? Gostei. Mas, agora, prometeu, tem que cumprir, malandro. Vale qualquer medalha.

Mas, deixemos os feios de lado, e vamos às belas. Essa Talita (foto) da dupla de vôlei de praia com a Renata, por exemplo. E a duplinha está surpreendendo, perdendo apenas um set na primeira fase. Olho nelas.

O vôlei masculino perdeu bonito (ou feio), e de novo para a Rússia. O Bernardinho estava um verdadeiro Pai Mei em fúria na beira da quadra, atitude que me faz questionar até que ponto isso ajuda. E os russos, que na Era da Prata tinham a fama de comemorar fria e discretamente os pontos conquistados, foram à loucura, tamanha a vibração. O craque deles é o Mihaylov, que parece ser um nerd em forma de gente.

Agora, vai ficar bonito: vai começar o atletismo na noite desta quinta. Tem até eliminatória dos 100 m rasos. Acho que vai começar a virada estadunidense no quadro de medalhas.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Telespectador olímpico - VIII

Se o Brasil hoje é uma potência em algum esporte olímpico, é no vôlei feminino. O que estão jogando essas meninas, que sofreram tanto nas últimas competições de grande visibilidade, que lhes custou a fama de "amarelonas", não é brincadeira. É justo esperar até o fim, e temos que admitir que o histórico delas pede isso. Embora o último Grand Prix tenho sido tão avassalador quanto está sendo esta primeira fase.

Eu queria ilustrar esse texto de hoje com uma foto da jogadora de vôlei sérvia Jovana Brakocevic, camisa 2, que brilhou contra o Brasil, apesar da derrota. Mas tive dificuldade de achar imagens dela, até mesmo em agências de notícias. Para onde esses fotógrafos estão olhando? Vou esperar mais um pouco, mas até o fim das Olimpíadas, eu posto uma foto dela aqui. Nem que seja de arquivo. Jovana neles!

Aliás, fora o judô, que é muito cruel, e a natação, onde tudo parece ser um samba de uma nota só, é no vôlei feminino que estamos encontrando alguma emoção nesses jogos de Pequim. Não consigo ver a seleção de futebol masculina como uma coisa séria. Pelo menos nos jogos olímpicos. Parece uma Copa América com asiáticos, africanos e europeus. A equipe feminina ainda precisa se acertar, e a Marta, por ser a melhor do mundo, está devendo.

Já está enchendo o saco esse negócio de atleta pedir desculpas pela TV. Desta vez, foi o Eduardo Santos, que chorou copiosamente após perder a disputa do bronze. Poxa, ninguém (que quer dizer muito pouca gente mesmo) sabia quem era o sujeito até ele entrar no tatame. Ele dá um show nas primeiras lutas, perde sob decisão polêmica da arbitragem, e sai por cima, mesmo sem medalha. Aí, dá um show daquele diante das câmeras depois da competição?

Será que não tem ninguém para trabalhar o lado emocional dessas pessoas? Sair insatisfeito é uma coisa, mas chorar, pedir desculpa e dizer que fez o máximo, mas não deu, como se esperasse clemência? Esporte não é superação a cada dia? Então, meu filho, vira a página e bola para a frente! O melhor comportamento em um caso semelhante foi o da Daiane dos Santos, em Atenas. Virou para a câmera, com a decepção ainda fresca pelo erro no solo, e disse com a maior simplicidade e sinceridade: "esporte é isso, gente". Ponto final.

Telespectador olímpico - VII

Fora o Michael Phelps, que está traçando tudo o que vê pela frente, as Olimpíadas de Pequim até que estão equilibradas. A China está fazendo a festa, ganhando ouro em esportes como levantamento de peso, tiro e saltos ornamentais, mas beliscando no judô, na ginástica e até na esgrima.

Aliás, roubando a piada lá da redação, a maior decepção dos jogos é a linha verde, que não está ganhando de ninguém na natação. Todos os recordes estão sendo pulverizados, como se só agora realmente aprendessem a nadar. Phelps chega a nos envergonhar: entra na piscina, bate um recorde, vai ao banheiro, e quebra mais uma marca. Na saída, volta com umas medalhas no pescoço.

Tiago Camilo parecia que ia detonar, como fez no Mundial do ano passado no Rio. Mas foi pego de surpresa com um ippon, em uma prova de que o judô é tão caixinha de surpresas como o futebol. Aliás, a outra menina do dia, Danielli Yuri, também foi surpreendida e perdeu quando tinha boa vantagem. Devíamos ver e praticar mais judô, esse esporte tão legal e emocionante.

Não dá para deixar de falar no futebol feminino, que parece estar engrenando depois da bela vitória sobre a Nigéria. Cristiane (foto) fez o dela, de bicicletinha, mostrando que agora entrou de vez no fuso horário. Agora, acabou a brincadeira. Perdeu, dançou. Vamos precisar de todas bem acordadas.

Quer dizer que a China não é tão azul assim? A menina cantora, primeira criança que me impressionou na cerimônia de abertura, era uma espécie de Milly Vanilly oficial e autorizada? E deu agora há pouco no JG: os organizadores admitiram retoques nas imagens da TV, como um photoshop da transmissão. Desse jeito, eu fico otimista! Dá para fazer Olimpíadas no Rio de Janeiro com tranqüilidade! Não há nada que o Pitanguy não possa resolver!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Telespectador olímpico - VI

K-E-T-L-E-Y-N. Ketleyn Quadros é o nome da dona da primeira medalha do Brasil. Pegou todo mundo de surpresa. Era um nome daqueles que a gente olha e passa direto sem dar atenção na lista das atrações do dia. Mas foi a menina de 20 anos que fez história ao ganhar o bronze, a primeira medalha individual de uma mulher brasileira em Olimpíadas. Depois, tivemos o Leandro Guilheiro, comprovando o que já tinha feito em Atenas, hpa quatro anos. Nos dois casos, fui dormir às 5h da manhã sem esperança, acordando às 8h surpreso com as medalhas. Comi mosca.

Mas a surpresa mesmo foi a facilidade com que as brasileiras do vôlei detonaram a Rússia. Sem dó, nem piedade, venceram os três sets. Mas vale o alerta: se se encontrarem de novo, as russas não vão repetir essa atuação. A giganta Ekaterina Gamova (foto) que o diga. E eu vi o jogo pela TV escutando pelo rádio, muito bem irradiado, por sinal. Fico imaginando como é difícil improvisar uma narração de vôlei pela latinha.

No basquete feminino, até que houve uma surpresa, não pelo resultado. Mas pela maneira como o Brasil encostou no finzinho do jogo. Mesmo assim, jamais acreditei que poderia virar.

O melhor do dia foi a impressionante prova de revezamento 4 x 100m livres da natação. De tirar o fôlego de telespectador e do locutor. E a vibração de Phelps foi de irritar. No bom sentido.

Peraí! Quer dizer que a dupla brasileira Renato e Jorge se naturalizaram pára defender a Geórgia nas Olimpíadas e adotaram os nomes de Geor e Gia??? Achei que fosse piada, mas... é verdade? Ufa! Ainda bem que não foi em Cuba...

domingo, 10 de agosto de 2008

Telespectador olímpico - V

Segundo dia, e surge mais uma musa: Stephanie Rice (foto), a australiana que venceu os 400m medley feminino. Ela baixou o ecorde mundial que quase dois segundos e ainda brilhou no pódio. Não estou nem aí para o Michael Phelps!

João Derly, o Robert de Niro com altura de Al Pacino do tatame, não resistiu ao português enfaixado Pedro Dias e foi eliminado. Minha aposta ainda é no Tiago Camilo e na Mayra Aguiar. Mas lembro que a Edinanci é sinistra...

Dormi no resto da madrugada. Só acordei para ver as meninas da ginástica cortando um dobrado para chegarem às finais. Conseguiram. Mas parece que a espeança de medalha fica mesmo só por conta de Diego Hypolito.

E teve o futebol masculino, onde dizem que o Ronaldinho desencantou. É bom que desencante mesmo, porque daí, só vão comemorar se vier um ouro e daqueles bem merecidos.

Telespectador olímpico - IV

Já começei a bater pino na madrugada, e por causa disso, deixei de escrever por um dia. Não faz mal. Com o início das competições, elas se amontoam na grade da TV e, entre uma cochilada e outra, você se pergunta: "Cadê o vôlei de praia que estava aqui?".

A estréia da principal dupla feminina brasileira me surpreendeu. Ana Paula se mostrou uma mulher aguerrida, mesmo demonstrando cansaço pelas horas viradas de viagem emendadas com o jogo contra as brasileiras georgianas.

E logo de cara, no primeiro dia olímpico, tivermos o prazer de ver Itália x Rússia, no vôlei feminino. A surge a primeira musa olímpica: Francesca Piccinini (foto), da equipe italiana. A camisa 12 mostrou vibração e, no decorrer do jogo, nem ia mais prestando atenção no que ia acontecendo na quadra.

No futebol feminino, quanta pancadaria. As coreanas do norte desceram o sarrafo nas brasileiras e, percebendo que a árbitra não fazia nada, as brasucas também resolveram entrar nas canelas e tornozelos das adversárias. Parecia uma boa e velha propaganda de Gelol!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Telespectador olímpico - III

Caramba! Vou tentar não repetir o que todos os veículos já falaram sobre a sensacional abertura das Olimpíadas de Pequim. Mas sabe o que mais me impressionou no meio daquilo tudo? Foram as crianças chinesas. Desde a primeira menininha que apareceu cantando sozinha no palco, passando pela minipianista, pelo coral que interpretou o hino olímpico vestindo roupas típicas, pelas estudantes que ajudaram a pintar a aquarela, e culminando na expressão do menino-herói que desfilou ao lado de Yao Ming, como um legítimo cidadão: de arrepiar.

Mas, como nem tudo é perfeito, e a China também está longe de ser um paraíso, vamos ao que teve de bom e de ruim na cerimônia mais badalada de todas as cerimônias.


BOM:

- Os 2.008 tambores luminosos e seus respectivos percussionistas

- A direção precisa do Zhang Yimou

- Apesar de parecer não ter fim, a elegância da delegação dos EUA, com direito a Kobe Bryant de boininha

- A aquarela gigante pintada durante a cerimônia e colorida pelos atletas virou o piso do palco

- O sistema de cabos de aço do Ninho de Pássaro, que fez o atleta acender a tocha olímpica: inacreditável!!

RUIM:

- O encontro musical do chinês Liu Huan com a britânica Sarah Brightman

- O desfile interminável das delegações dos países

- A roupa dos brasileiros era tão pesada, que os atletas foram tirando casaco, chapéu e ficaram só de camiseta

- Os chefes de Estado toda hora aparecendo na telinha

- Essa política que o Brasil se esforça em fazer para tentar sediar os Jogos de 2016

Agora chega: que venham os jogos!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Telespectador olímpico - II

Não vejo a hora de a Olimpíada de Pequim começar (e acabar) logo. Esse negócio de futebol antes da abertura dá uma leve impressão de alguma coisa está fora do lugar. Na manhã desta sexta, sim! Cerimônia de Abertura, com um monte de gente fazendo coreografias, show de luzes, danças e músicas chinesas esquisitas e o interminàvel desfile das delegações. A previsão é de 3 horas e meia de duração. Vamos ter vaias aos americanos? Se entrarem de máscara, eu apupo daqui de casa!

1) Estréia morna dos homens no futebol. Aliás, times feminino e masculino estão cada vez mais parecidos. Mais uma vez, acordei atrasado e peguei com uns 20 minutos de jogo, desta vez, acertando o canal. É a seleção das trancinhas: Ronaldinho, Anderson e Breno.

2) A Bélgica tem a sina de ser roubada quando enfrenta o Brasil? Para mim, duas expulsões Mandrake.

3) Não acho uma boa esse negócio de a gente ter que ficar vendo a família do jogador torcendo. Acontecem algumas situações constrangedoras. Se o cara está mal, fica difícil criticar.

4) Ainda sobre comerciais (e fica difícil não comentar, eles se repetem tanto...). O Giba precisa escolher melhor os anúncios, ou pelo menos os roteiros. Esse do celular que pega TV é uma tremenda queimação de filme! O maior jogar de vôlei do mundo está no banco (?) ouvindo MP3 durante o jogo, quando é flagrado pelo técnico e toma a maior bronca.

Depois, faz a maior cara de enfado e liga a TVzinha, sintonizando a Daiane. Depois, muda para o futebol e vê a Marta fazendo um gol. Aí, vira anarquia: o Giba invade a quadra, em pleno jogo (!!) e começa a pular, para assombro do técnico. O juizão mostra que não está para brincadeira: saca um cartão vermelho e expulsa o Giba!! Gênios da publicidade! Eu, hein!! Tá doidão, Giba?

5) Sem comentários sobre o anúncio do Benardinho encarnando o Pai Mei...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Telespectador olímpico - I

OK, estou sem folga durante os Jogos Olímpicos de Pequim. Mas não estou trabalhando diretamente na madrugada, como boa parte dos meus colegas. Pior ainda, já que de dia eu estou na redação, e de noite viro telespectador. Já consegui autorização para deixar a TV ligada em casa madrugada adentro.

Por isso, pretendo dividir com os amigos algumas impressões sobre os Jogos. Seguem as primeiras:

1) Acordei atrasado para o jogo Brasil x Alemanha. Liguei a TV e acompanhei o equilbrado jogo. Vi que as brasileiras estavam de azul, e as alemães, de branco. Azul? Só dez minutos depois, descobri que estava vendo Nova Zelândia x Japão... Cadê o controle remoto?

2) Prezunic? Tem uma jogadora alemã com nome de supermercado? Nada disso, o nome dela é Linda Bresonik...

3) Na propaganda do McMenu, logo no início, aparece um senhor que põe um chapeuzinho de plantador de arroz e vai para a frente da casa. E fica ele lá, dançando sozinho, animadão. Maior pinta, o senhorzinho!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O Coringa toca o zaralho!

Ainda vou precisar de um tempo até saber direito se Batman - Cavaleiro das Trevas é a melhor adaptação dos quadrinhos para o cinema. Até há pouco, eu jurava que era Dick Tracy, filme a que já assisti umas duas ou três vezes. Talvez, depois de um tempo, mude de idéia. Ou não.

Há uma semana e meia, peguei o finzinho de uma exibição de Batman Begins na TV aberta. Achei um filme sem pé nem cabeça e fiquei meio decepcionado. Lembro de na época sair incomodado com o nível dos vilões - pois já tinha lido nos gibis versões muito mais interessantes do Espantalho – e com a explosão da Mansão Wayne – desnecessária.

Ao sair do cinema nesta terça-feira, porém, cheguei a uma conclusão que não vai se perder com o tempo. O Coringa de Heath Ledger é o personagem que menos tem influência dos quadrinhos e o que mais força ganhou fora das HQs. Não há gases venenosos coloridos, nem roupas muito espalhafatosas, muito menos pistolas com canos compridos. Há terrorismo, sadismo, anarquia (muito se falou esta palavra) e humor e sorriso amarelos.

Uma vez eu já fui fantasiado de Coringa em uma festa à fantasia. A cara ficou branca, a boca ficou vermelha e esticada pelas bochechas, mas o cabelo ficou tudo, menos verde. E, durante a festa, fui ao banheiro e vi minha cara toda derretida. O vilão composto por Ledger é assim: maquiagem, suor e o mais próximo possível do que um The Joker seria na vida real.

Antes que eu esqueça e me perca diante de tanto papo cabeça: recomendo. O filme é grande em tamanho e valor, daqueles que te deixam grudado na cadeira. O Coringa, literalmente, toca o terror! Faz da Polícia de Gotham City o que quer, deixa Batman ou Bruce Wayne tonto e desfigura a vida do honesto Harvey Dent. Fosse eu o Tenente Gordon, teria desistido bem cedo. Aliás, no placar moral, dá empate no fim.

O Coringa de Ledger é um palhaço malvado, e quem sabe um pouquinho de Commedia Dellarte vai entender de onde veio a técnica do ator. Só que é elevada ao extremo, a todas as potências imagináveis. Fica no limite, quase estourando, incomoda, agride, mas às vezes também nos faz soltar um riso nervoso, como se disséssemos "ah, não estou com medo, estou até rindo". Balela. Dá medo sim. Pena que tenha sido um dos últimos trabalhos do promissor ator.

As coisas que o personagem trama e faz, e junto com isso, a maneira como o ator realiza as ações estúpidas do vilão, nos fazem lembrar de casos bem reais, que fazem parte do nosso noticiário. Por vezes, o Rio é Gotham, a GCPD é a PM, o Batman é uma espécie de milícia, e o Coringa... eu, hein!

PS1: O que eu acho curioso é que, no primeiro filme de Heath Ledger após a morte prematura do ator, a gente veja a cara dele sempre maquiada, em 99,9999% das cenas. Em apenas um frame vemos o rosto do Coringa sem a maquiagem (ei-lo aqui fantasiado de policial).

PS2: Recomendo a leitura de Gotham City contra o crime, série de quadrinhos já cancelada nos Estados Unidos, e lançada por aqui em DC Especial 5, 8, 11, 13, 14 e 16. É uma das melhores coisas que li ultimamente. Mostra o dia a dia da GCPD, com os tiras bons e os corruptos, tendo Batman e os seus pavorosos vilões como personagens coadjuvantes.