segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Cara estranho

Rapaz, eu já desisti da música algumas vezes na minha vida. As primeiras foram quando o dedo indicador esquerdo começava a doer por causa dos acordes em que o fura-bolo finge que é pestana. Foi assim que eu joguei a toalha umas três vezes. Até que encarei os F, F# e Bb sem medo, e resolvi fazer parte de uma banda. Depois, entre 1987 até 2007, nesses vinte anos aprendi a tocar baixo e participei de três inesquecíveis grupos, e em um deles cheguei a gravar um LP com dez músicas.

As canções que ouvia na infância não eram bem para crianças. Fato é que, nos Anos 80, fora a traumática e inesquecível Copa de 1982, os duelos sem fim de Zico e Dinamite nos meus campeonatos solitários de botão, e os desenhos dos Flintstones e do Hanna Barbera e do Globinho, havia Falcon e Playmobil para brincarmos de realidade. Mas as músicas da minha infância era o Clube da Esquina 2 que meu irmão não tirava da radiola, as fitas da Elis que minha mãe ouvia no Corcel 77 IM-5000 e o LP Gal Tropical.

Depois, sim, vieram as bandas de rock brasileiras, Paralamas, Kid Abelha, Titãs, Blitz, Barão Vermelho, RPM, Ultraje a Rigor, que tinham sabor de festinhas, de chegar tarde em casa e tomar as primeiras broncas. Mas, como fui um boêmio precoce, freqüentei boteco desde sempre, ouvindo no Escritório Bar a mesma MPB da infância.

Portanto, quase nunca fui rock'n'roll de verdade. Cresci MPB. Ouvia os rocks dos amigos, que gostavam, e para não parecer um ET. Tentava entender os punk rocks paulistas que meu primo escutava, mas logo me emocionava com a versão para "Serra da Boa Esperança", do Lamartine Babo,que o Eduardo Dusek gravou e que tocava direto na Rádio Costazul FM.

Ou seja, quatro parágrafos de introdução para começar a falar de "sou" (ou "nós"?), no primeiro CD solo de Marcelo Camelo. Primeiro, preciso deixar claro que sou fã do Los Hermanos desde que ouvi "Bloco do Eu Sozinho" pela primeira e segunda vezes de sopetão, de uma vez só. Reconheci algo ali.

Pois agora, ouvindo o vôo solo do Camelo, reconheço hoje a música que aprendi a gostar desde pequeno. Marcelo faz a crônica do cara de uma geração que busca maneiras novas de se dizer as mesmas coisas que já disseram nestes últimos 30 anos. Afinal, há pouco por dizer. A diferença é que ele faz sem o medo que as pessoas da minha idade tiveram de parecerem careta. Além de ter o conhecimento de quem pesquisou novas maneiras de fazer.

Odiado por boa parte da minha geração, mas amado, ouvido e cantado pela maioria dela, Camelo chegou a apanhar na rua de um outro popstar, este até popularmente mais bem sucedido do que ele (ver o olho roxo da foto acima). Só de ouvir as faixas 1 (Téo e a Gaivota), 5 (Janta) e 9 (Copacabana), me sinto vingado por tudo o que não ouvi minha geração cantar até então. E hoje, vendo o Camelo de olho roxo, entendo que ele levou apenas a pior no primeiro golpe. Mas o resto da briga ele ganhou. E eu mais uma vez fiz as pazes com a música.

Clique aqui e faça bom proveito

Já tem no You Tube o vídeo do show de estréia, com ele e Mallu Magalhães cantando "Janta"

domingo, 14 de setembro de 2008

Dupla de ataque

Propositalmente, tirei o sabadão para assistir aos dois filmes dos diretores brasileiros que fazem sucesso no exterior. E coincidentemente, ambos têm em duas personagens femininas seus focos para observar a chamada condição humana, ambas tendo a metrópole como fundo.

À tarde, fui ao São Luiz ver Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas, que repetem a parceria do insípido Terra Estrangeira, filme de que não gostei nada. Ao contrário, porém, este que deu a Sandra Corvelloni a Palma de Ouro de melhor atriz em Cannes, surpreendendo toda a imprensa brasileira, fica menos na forma do que a experiência anterior.

O filme tem na família formada pela mãe Cleuza e os irmãos Dênis (João Baldasserini), Dario (o já conhecido Vinícius de Oliveira), Dinho (José Geraldo Rodrigues) e Reginaldo (o surpreendente Kaique Jesus Santos) os protagonistas da trama. É a partir das escolhas diárias que a vida dessas pessoas circula entre a paz e a tragédia. Todos buscam algo. A fé pode residir na arquibancada do Pacaembu ou em uma igreja evangélica da periferia.

A Folha de S. Paulo deste domingo fez uma reportagem sobre uma sessão realizada para moradores dos bairros de Heliópolis e Grajaú (zona sul), e de Itaquaquecetuba (Grande SP). Vale ler pelas opiniões curiosas e diversas sobre o filme (leia aqui).

Por fim, só à meia-noite, por causa da grande procura de ingressos no Artplex Botafogo, fomos eu e Liliane assistir ao grande lançamento do ano, Ensaio sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles. Eu já esperava assistir a um grande filme. Também já tinha lido o livro de José Saramago no ano em que foi lançado.

Mas o impacto das imagens, aliado ao bom roteiro de Don McKellar (ele é o ator que faz o ladrão do automóvel do primeiro cego), faz a gente entender o motivo de algumas adaptações serem tão perfeitas.

As atuações de Mark Ruffalo (médico), Alice Braga (realmente, essa menina tem talento), Danny Glover e Gael García Bernal são marcantes. Mas é em Juliane Moore, cujo trabalho já tinha me deixado chapado em As Horas, que reside a força do filme. Se Rachel Weisz levou o Oscar de melhor atriz por outro filme do brasileiro, O Jardineiro Fiel, é bem possível que a americana de 47 anos, que já foi indicada quatro vezes, leve a estatueta desta vez. E se Fernando Meirelles conseguiu ser indicado por Cidade de Deus, eu apostaria que ele estará entre os indicados no ano que vem.

A Veja da semana passada traz boa crítica, com carta do autor do livro elogiando o filme de Fernanrdo Meirelles (leia aqui).

São dois filmes imperdíveis, para deixar Batman e Coringa boladões.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O ataque dos santões

Sempre gostei das eleições, desde pequeno, quando em Angra ainda nem se podia escolher o prefeito. A primeira vez que votei foi em 1982, quando eu tinha 10 anos. Sim. Minha falecida avó, Dona Sebastiana, me pediu que a acompanhasse até a cabine, e eu nem perdi tempo para preencher a cédula toda. Votei, no que se chamava na época de voto vinculado, em candidatos a governador, senador, deputados federal e estadual e vereador, todos candidatos do PDS. E não seriam os que eu votaria, claro, mas sim, os escolhidos pela Vó Tiana.

A cidade ficava cheia de santinhos espalhados pela rua. Uma verdadeira festa da democracia, bradávamos nós, já em nossa primeira participação como votante e militante, nas eleições de 1989, enfim, para presidente. Tinha 17 anos. E que eleições foram aquelas! Lula, Brizola, Ulisses, Covas, Maluf, Aureliano, Afif, e os obscuros Pedreira, Marronzinho, Correia, Caiado, com figuração de Silvio Santos, mas com fim triste: Collor.

De lá até 2008, hoje com 36, já nem me lembro direito em todos os candidatos em que votei (em algumas até justifiquei ausência) nas eleições. Sou voluntário, trabalho como mesário, por gostar muito do processo eleitoral. Mas confesso que estou de saco cheio com a poluição visual da cidade. Saem os santinhos, entram os santões (foto). Neste monumento, no cruzamento da Senador Vergueiro com Barão do Flamengo, o José de Alencar parece entediado com tamanha cara-de-pau dos candidatos em roubar o seu espaço. Portanto, me decidi: não voto em candidatos a vereador com santões. Embora, para prefeito, não eu tenha como fazer isso. Todos aderiram aos santões!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Uma bela visão

A foto ao lado é de um dos bares tradicionais da Rua do Lavradio, esquina com Rua do Senado, do qual o nome eu já esqueci totalmente. Como eu disse no post anterior, todo primeiro sábado do mês acontece lá uma feira de antigüidades e artesanato. Em uma tarde bonita como foi a do dia 6 de setembro, o lugar fica gostoso e dá vontade de não sair dali jamais.

É claro que se trata de um programa etílico, fica difícil entender aquilo ali sem algum álcool. Quem preferir, pode sentar-se em alguns dos vários botecos e antiquários espalhados naquele logradouro, que hoje é uma das atrações desta cidade e um dos símbolos da recuperação da Lapa, que ainda precisa de atenção das autoridades.

Prova disso é o casario, que merece ser reformado aos poucos. Não sei como é a situação dos proprietários. Sei que tem gente que mora lá. Veja no segundo andar desta maravilhosa construção. A janela estava aberta (e depois se fechou). Tem aparelho de ar condicionado, o que é uma prova disso. Deveria ser um privilégio morar ali, naquela cúpula, que pode ser um quarto ou uma sala.

Pois este sobrado foi a minha vista durante a maior parte do dia. Decidi registrá-lo durante o belo entardecer. O céu ganhou uam tonalidade bonita com contraste com as luzes do lugar. Ao fundo, um show com Áurea Martins, com repertório antigo, com algumas músicas de Zezé Gonzaga.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Paradiso perdido

OK, prometo que não falo mais no fim do Cinema Paissandu. E sei o quanto é chato para as pessoas que pingam neste blog ficarem tanto tempo sem atualização e, quando volto, surge o mesmíssimo assunto.

É claro que fui lá fotografar (com o celular mesmo) na última semana do cinema, lembrando do Paradiso do filme inesquecível. Não tinha demolição. Mas já havia um aviso de que o ar condicionado não estava funcionando (para quê gastar com mais luz?).

Li nos jornais que ainda há uma esperança de que alguma boa alma consiga revitalizar aquele espaço. Eu não tneho mais esperança, e imagino que o mais perto de um centro cultural que a sala deve se tornar é um supermercado (em alguns deles, toca-se música).

Na última semana do Paissandu, a vereadora que leva o bairro no sobrenome passeou com o seu carro de som (está em campanha para reeleição) prometendo um protesto em frente ao cinema.

Eu, estava com o tempo vago, fui lá dar uma olhada. Estava ela com um megafone na mão, gritando: "O Cinema Paissandu não pode acabar". Ao lado, um abaixo-assinado. Simples, não? Resolvido? Claro que não.

Dois homens seguravam uma faixa-protesto (foto abaixo). Foi de lá que eu ouvi o melhor comentário. Aparentemente cansados de ficar ali parados, um disse ao outro: "Quem tinha que estar aqui revezando com a gente é o pessoal do gabinete".

PS: Quem se lembrou do meu aniversário, muito obrigado. Quem não se lembrou, não fique preocupado, que eu não dou a mínima (mesmo, juro!).

Mas eu me diverti muito no sábado, quando fui à Feira do Lavradio com grandes amigos. É sempre no primeiro sábado de cada mês. Acho que virei freguês.