quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Canarinho sem ninho

Decidi em cima da hora que eu poderia assistir ao jogo da seleção brasileira no Maracanã. Afinal, fazia mais de 15 anos que eu não via a equipe verde-amarela de perto. A última foi no dia 19 de setembro de 1993, nos 2 a 0 sobre o Uruguai, jogo em que Romário foi convocado por Parreira em cima da hora para evitar uma tragédia: se perdêssemos, teríamos que disputar uma maldita repescagem na Oceania, se não me engano. Dunga estava lá, em campo, e viu o Baixinho fazer uma das melhores atuações individuais com a camisa amarelinha. Eu também vi.

Desta vez, acordei cedo e fui para o Rio Sul antes mesmo deste shopping eternamente em obras abrir. Tem todo um ritual, abre-se a porta de fora, depois a de dentro, e o povaréu entra. Quando cheguei à livraria Saraiva, a fila já era enorme. Muitos gringos, pais de família e pessoas esquisitas, como eu, por exemplo. Após uma hora, e uma taxa de 20% que eu não esperava pagar, o ingresso estava na mão.

A segunda maratona era sair da Barra rumo ao Maracanã. Imaginei que iria sofrer, mas o trajeto em dois ônibus durou uma hora e 40 minutos. No 438 via Rebouças, apenas eu, um casal e quatro amigos saltaram em frente à estátua do Bellini, minoria em um ônibus repleto de pessoas voltando do trabalho.

- Passa no Maracanã, né?
- Passa, sim. Ih, o jogo é hoje, é?? - respondeu e perguntou o distraído motorista.

Ao chegar na porta da "casa de espetáculos", tratei de tomar as minhas cervejas, já que encarar uma jornada solitária ao Maracanã, não é mole não. Dei aquela volta rápida no Bellini tentando encontrar algum conhecido (quase todos marcam encontro lá). Tinha PM, Polícia Municipal, Segurança e até Fiscal do TRE. Nenhum rosto conhecido. É melhor entrar logo.

Um pequeno bolo de pessoas se aglomerava na entrada. Em cima de uma grade, um cara de colete gritava:

- Arquibancada verde, amarela, branco, inteira e meia é aqui! Cadeiras azuis e gratuidades é lá - bradava o que uma boa placa resolveria. Aliás, é difícil entender o motivo de o Maracanã ser tão mal sinalizado.

Ao entrar, cheguei mais ou menos na hora em que os jogadores iam ao campo para fazer o aquecimento. Esse foi o momento ápice do espetáculo. Pareciam os Beatles, e Kaká era o Paul. Robinho, tinha o carisma do Ringo. Pena que o conjunto desafinou quando o show começou.

Enfim, saí do jogo aos 20 minutos do segundo tempo, com muito tédio. Peguei um táxi, que nem escutava o jogo, e em que o motorista nem sabia do placar. A impressão que tive é que, embora a maioria estivesse usando amarelo, quase ninguém se sentia torcedor daquele "time esquisito". Não existem cânticos, fora um leleô, Brasil que surge de vez em quando. Ah, claro, a exceção foram os xingamentos ao técnico, ao Robinho, além do duelo Fla-Flu nas arquibancadas. Uma tremenda chatice.

Sintomático mesmo foi um detalhe ainda no primeiro tempo: apenas um jogador teve o nome gritado por uma jogada que fez dentro de campo. Não foi Kaká, embora a claque feminina desse urros quando ele recebia a bola. Não foi Robinho. Pato só teve o nome gritado quando estava no banco, mas quando entrou, desafinou também. Júlio César foi saudado antes do jogo, mas só. Foi Lúcio, após uma bonita roubada de bola. Amigo, quando a torcida grita o nome do zagueiro, é sinal de que a coisa foi feia.