
E para variar, caí em um belíssimo plantão momesco e tive que ver a premiação da redação. Para quem passou as últimas cerimônias tomando sempre umas latinhas e comendo uns acepipes, foi um Oscar bem rápido.
A comparação com o Cidade de Deus é bem oportuna, e na cena da perseguição dos policiais às crianças (uma das melhores do filme) tem até uma galinha que cruza a favela indiana. Três prêmios retratam bem a qualidade do filme de Danny Boyle: fotografia, montagem e roteiro adaptado. A cereja no bolo são outras três estatuetas: mixagem de som, trilha sonora e canção original. Diretor e filme completam a lista. O elenco de atores indianos (criançada bonita e cativante) subiu junto ao palco para agradecer.

A melhor coisa que inventaram foi a apresentação dos prêmios dos atores e atrizes, criando uma espécie de valorização das indicações. Ver um colega tecer elogios ao outro é um risco que valer a pena ver. Destaco as apresentações de Shirley McLaine à Anne Hathaway (foi sinceramente às lágrimas, ambas trabalharam juntas quando esta era bem novinha, e o filme reprisou na Globo no mesmo domingo) e a de Robert de Niro ao vencedor Sean Penn ("ele se dá bem com os papparazzi" foi a melhor piada da noite). Um toque de charme foi a Piaf Marion Cotillard chamar o talento de Kate Winslet de inspirador. Que elegância ao elogiar uma colega contemporânea!
Atores a atrizes mereceram seus prêmios, embora eu preferisse Amy Adams à Penélope Cruz. Mas ao ver a espanhola dizendo a segunda melhor piada da noite (alguém já desmaiou em um agradecimento?), esqueci minhas preferências. Aliás, que filmaço o "Dúvida". Com quatro indicações para o elenco, é um daqueles obrigatórios, tanto pelas atuações, quanto pela filmagem honesta e temática cativante. Sem tomar partidos de bem ou mal, sejam eles quais forem.

Mas o que arrebentou mesmo foi Jerry Lewis. A entrada no palco de um dos maiores ícones da minha infância, já bem idoso, mas ainda mostrando uma certa disposição, emocionou. Ele ainda tentou fazer uma careta típica, não sei nem se foi voluntária.
Mas é daquelas homenagens pontuais acertadas que o Oscar faz. Um cara que me fez rir muito nas tardes de sábado, em uma sessão na TV que tinha o nome dele. Aliás, por onde andam os filmes do Jerry Lewis? Cadê o trio vocal feminino que cantava Ih-Ih-Ih-Ih-Ih-Tché-Tchéré-Tchep? E o número da máquina de escrever? E o dueto com Shirley McLaine (ela de novo) na escada? Eu quero o Jerry Lewis de volta!
PS: Por falar em Odorico (post abaixo), morreu uma de suas "três amantes". Sim, porque foi no papel de Dorotéia Cajazeira que Ida Gomes mais ficou conhecida. Ela tinha a alcunha de Bette Davis brasileira não só por causa de sua semelhança, mas também por ter sido ela a dubladora do atriz americana (e de Joan Crafford também). Era polonesa de nascimento. Poucas horas depois de seu falecimento, a data do óbito já estava no Wikipedia.